Há algum tempo eu fiz um artigo elogiando as opções do Adriano, quando ele disse que deixava a Europa porque não se sentia feliz por lá. Preferia estar por aqui, perto dos seus amigos, da sua família, empinando pipa na favela, de bermuda e sandália, indo à praia. A mentalidade neoliberal reinante se escandalizo.
Por Emir Sader, no Blog do Emir*
Como, abandonar os milhões, a fama e a glória da Internazionale para vir para este mundo (que eles consideram “sórdido”, contaminado pela violência, as drogas, etc.) Chegaram a me dizer que não deveria me meter nesse assunto, porque haveria mais coisas, chegando-se a citar álcool, drogas, “e quem sabe algo mais, pior”.
Agora, pouco tempo depois, ai está o Adriano, feliz, no Flamengo – seu time, pelo qual deveria jogar cada jogador, pelo seu time do coração -, na seleção, jogando muito bem, fazendo gols, dando risada. Uma entrevista dele na televisão revela uma pessoa transparente, que assume os problemas que teve com álcool, mas que assume também suas opções de forma clara, em contraste evidene com outros pop-stars do mundo esportivo - fabricados, artificiais, defendidos, travados, sem sequer capacidade de expressão, subservientes aos jornalistas da mídia mercantil.
Aqueles que tiveram atitudes hostis à opção do Adriano deveriam vir a público fazer autocrítica, mas não são muito dados a isso, preferindo continuar a ditar regras com toda a soberbia nos seus espaços na mídia. De repente, se repercutem a correta opção do Adriano, outros seguem esse caminho, na contramão do dinheiro e dos espaços midiático, que eles confundem com o sucesso.
Muitos desses jornalistas participaram diretamente da elaboração da Lei Pelé, que enfraqueceu definitivamente os clubes e jogou tudo nas mãos do mercado, dos empresários, que se encarregaram de mercantilizar tudo no esporte. São eles que têm a decisão sobre os destinos dos jogadores, que ganham dinheiro, que promovem essa brutal rotatividade de jogadores por clubes, com alguns deles jogando uma parte de um campeonato por um time, outra parte por outro. Não há mais nenhuma identidade dos jogadores com os clubes, eles são assediados o tempo todo por empresários, com propostas mirabolantes para países exóticos, a que vão e ou desaparecem ou retornam, não para o clube que os revelou e onde a torcida se identifica, freqüentemente para o seu maior rival, revelando o poder do dinheiro. (Jogadores que foram símbolo do Palmeiras voltam do exterior pouco tempo depois para o São Paulo ou o Corinthians e vice-versa, beijando as camisas, com o nome do patrocinador maior do que o do clube, sem maior cerimônia.)
O resultado são clubes falidos e empresários milionários (vários acusados de tramóias em escândalos públicos, em que as cifras milionárias das compras e vendas de jogadores muitas vezes escondem limpeza de dinheiro.), torcidas que já não podem ver seus ídolos jogar nos estádios, tem que se render a assinar TV a cabo para vê-los jogar na Europa, para onde os atuais donos do futebol, os empresários, os levaram.
Esse mesmo cronista tem que se render ao sucesso inegável do Dunga como técnico da seleção. A imprensa não gosta dele, porque os jornalistas e camarógrafos já não podem passear pela concentração da seleção como se estivessem nos estúdios das empresas onde trabalham. Na Copa anterior, a Globo, com a conivência do Parreira, tinha instalado um verdadeiro estúdio dentro da concentração, com o privilégio das entrevistas e das noticias. A Globo sente falta agora e já vê as dificuldades na Copa do ano que vem, na África do Sul, para fazer isso.
Dunga proibiu essa festa e tem como reação a hostilidade da imprensa, dos jornalistas e, antes de tudo, da Globo. Quando a seleção andava mal, malhavam o Dunga implacavelmente, sem o beneplácito que tinham com outros técnicos, reverentes ao trabalho dos monopólios privados da mídia.
São obrigados a reconhecer que a seleção joga bem e com efetividade. Mas no segundo parágrafo passam a falar do estado de ânimo do Dunga, de dar bronca na imprensa, de aproveitar para descontar contra os jornalistas as atitudes precipitadas que tinham tido contra o seu trabalho. Dunga sempre acusa outros interesses que não os da seleção, que querem se sobrepor a estes. Disse que afirmou a Lula que ia trabalhar pela seleção brasileira, que colocaria por cima de qualquer outro interesse.
Alguns chegam a comparar, no seu tucanês explícito, Dunga com Lula, como se fossem dois personagens que tem sucesso – aleatório e não por méritos deles, ao que parece -, mas sem nenhum mérito próprio, que eles têm que agüentar, mas a que não se obstinam. Como se o povo gostasse deles na base do “Você não vale nada, mas eu gosto de você”.
São cronistas da fracassomania: foram contra os Jogos Panamericanos do Rio, são contra tudo o que a CBF, o Comitê Olímpico, o Ministério dos Esportes e qualquer autoridade esportiva que tenha que ver com o governo Lula. Nunca fizeram autocrítica de ter apoiado e até participado do governo FHC – o mais corrupto da história do Brasil -, de ter se oposto aos Jogos Panamericanos, que tanto bem fizeram ao Rio.
Agora fingem que não houve um grande sucesso da candidatura do Brasil aos Jogos Olímpicos, com especial destaque para a forma de apresentação do projeto e para o apoio governamental. Fingem que não sabem que foi uma enorme surpresa, que o Rio era o quarto colocado, concorrendo com países que já dispõem de estruturas construídas, que contam com grandes patrocinadores e com um trabalho de mídia fundado nos grandes monopólios nacionais que os apóiam, passou a sede favorita para ser escolhida para a Olimpíada.
No futebol falam pouco ou nada dos jogos, dos jogadores, das jogadas, de táticas, talvez porque não entendam nada disso – ao contrário, por exemplo do Tostão. Adoram estar de acordo com os donos das empresas em que trabalham ou em que ambicionam vir a trabalhar e usam qualquer pretexto para falar mal do governo. Mal escondem seu tucanismo, sua fracassomania em relação ao Brasil. Por isso não suportam Adriano, Dunga e Lula.
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