Tempos movimentados
têm sido estes. A começar pela grave denúncia formulada pelo ex-agente da CIA,
Edward Snowden, ao revelar informações da Agência de Segurança Nacional dos
Estados Unidos, segundo as quais bilhões de e.mails e telefonemas foram
espionados no Brasil, o país latino-americano mais monitorado pelo serviço de
inteligência norte-americano. E de que em Brasília havia uma base de espionagem
dos Estados Unidos, bem como embaixadas brasileiras foram espionadas.
O Ministro das
Comunicações, Paulo Bernardo (foto), num primeiro momento demonstrou “surpresa”
e admitiu que se houver empresa brasileira envolvida “configura crime”.
Mas em que planeta
vive Paulo Bernardo? Será que ele nunca levou em conta de que já pairavam
suspeitas, nunca checadas pelo governo, da ação dos serviços de inteligência
dos Estados Unidos no Brasil?
Será que Paulo
Bernardo tem a memória tão curta assim para não se recordar da tragédia
ocorrida na Base de lançamentos de foguete de Alcântara, no Maranhão? E que
alguns técnicos acusaram diretamente serviços de inteligência estrangeiros,
sobretudo a CIA, pela explosão, que não só congelou as experiências que estavam
sendo feitas por brasileiros, como provocou a morte de cientistas.
Será que Paulo
Bernardo nem ouviu alguns próceres do PT que também denunciaram e pediram
investigações rigorosas sobre a tragédia? Como as conclusões das investigações
não convenceram, até hoje paira suspeita de que o acidente pode ter sido
provocado pela CIA.
Será que o Ministro
das Comunicações desconhece declarações recentes do Ministro da Defesa, Celso
Amorim segundo as quais em duas ocasiões pensou que estavam grampeando o seu
telefone, uma vez quando era embaixador do Brasil na ONU e tinha sido
encarregado de três comissões sobre o Iraque. Segundo Amorim o seu telefone
começou a fazer um ruído muito estranho que só parou quando terminou o trabalho
da comissão. Bernardo não leu a entrevista concedida pelo Ministro ao jornal
Folha de S. Paulo?
As recentes
denúncias de Snowden estão na ordem do dia do noticiário. Vão render e merecem
ser investigadas com todo o rigor, bem como se exige um posicionamento firme do
governo brasileiro por esta intromissão indevida nos assuntos internos da
nação.
É preciso
investigar também se o monitoramento continua. Mas o melhor a ser feito neste
momento é tirar do circuito o Ministro Paulo Bernardo, que ao comentar os fatos
na Rede Globo, parecia mais um advogado do embaixador norte-americano Thomas
Shannon do que um representante do governo brasileiro.
É claro que não é
de hoje que acontecem intromissões estadunidenses. Em 1954, a CIA esteve
presente nas tentativas de desestabilização do governo Getúlio Vargas, como
confirmam documentos tornados públicos nos Estados Unidos.
Em 1964, os
golpistas tiveram o apoio norte-americano tendo o Pentágono enviado para as
costas brasileiras navios de guerra para garantir a derrubada do Presidente
constitucional João Goulart e a instalação de um regime ditatorial sob o
comando de civis e militares submissos aos interesses de Washington. Será que
Paulo Bernardo desconhece história?
Como o Brasil foi
considerado pêndulo da América Latina, como disse o então Presidente Richard
Nixon, “para onde caminha o Brasil caminha o continente latino-americano”, o
governo dos EUA continuou a agir com seus arapongas, muitos deles disfarçados e
até contando com a ajuda de brasileiros nefastos e mercenários.
Em outros momentos
da história da América Latina, vale o registro de fatos, como o de que alguns
órgãos de imprensa receberam apoio financeiro da Central de Inteligência dos
Estados Unidos (CIA), como El Mercurio, do Chile, contemplado com 1,5 milhão de
dólares. A publicação, por sinal, apoiou desde a primeira hora o golpe que
derrubou o Presidente Salvador Allende.
Uma pergunta que
não quer calar: quantos outros órgãos de imprensa de mercado receberam também a
ajuda?
Mario Agusto Jakobiskind, Direto da Redação
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