quinta-feira, 11 de julho de 2013

. Em tempo de espionagem



Tempos movimentados têm sido estes. A começar pela grave denúncia formulada pelo ex-agente da CIA, Edward Snowden, ao revelar informações da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, segundo as quais bilhões de e.mails e telefonemas foram espionados no Brasil, o país latino-americano mais monitorado pelo serviço de inteligência norte-americano. E de que em Brasília havia uma base de espionagem dos Estados Unidos, bem como embaixadas brasileiras foram espionadas.

O Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (foto), num primeiro momento demonstrou “surpresa” e admitiu que se houver empresa brasileira envolvida “configura crime”.

Mas em que planeta vive Paulo Bernardo? Será que ele nunca levou em conta de que já pairavam suspeitas, nunca checadas pelo governo, da ação dos serviços de inteligência dos Estados Unidos no Brasil?

Será que Paulo Bernardo tem a memória tão curta assim para não se recordar da tragédia ocorrida na Base de lançamentos de foguete de Alcântara, no Maranhão? E que alguns técnicos acusaram diretamente serviços de inteligência estrangeiros, sobretudo a CIA, pela explosão, que não só congelou as experiências que estavam sendo feitas por brasileiros, como provocou a morte de cientistas.

Será que Paulo Bernardo nem ouviu alguns próceres do PT que também denunciaram e pediram investigações rigorosas sobre a tragédia? Como as conclusões das investigações não convenceram, até hoje paira suspeita de que o acidente pode ter sido provocado pela CIA.

Será que o Ministro das Comunicações desconhece declarações recentes do Ministro da Defesa, Celso Amorim segundo as quais em duas ocasiões pensou que estavam grampeando o seu telefone, uma vez quando era embaixador do Brasil na ONU e tinha sido encarregado de três comissões sobre o Iraque. Segundo Amorim o seu telefone começou a fazer um ruído muito estranho que só parou quando terminou o trabalho da comissão. Bernardo não leu a entrevista concedida pelo Ministro ao jornal Folha de S. Paulo?

As recentes denúncias de Snowden estão na ordem do dia do noticiário. Vão render e merecem ser investigadas com todo o rigor, bem como se exige um posicionamento firme do governo brasileiro por esta intromissão indevida nos assuntos internos da nação.

É preciso investigar também se o monitoramento continua. Mas o melhor a ser feito neste momento é tirar do circuito o Ministro Paulo Bernardo, que ao comentar os fatos na Rede Globo, parecia mais um advogado do embaixador norte-americano Thomas Shannon do que um representante do governo brasileiro.     

É claro que não é de hoje que acontecem intromissões estadunidenses. Em 1954, a CIA esteve presente nas tentativas de desestabilização do governo Getúlio Vargas, como confirmam documentos tornados públicos nos Estados Unidos.

Em 1964, os golpistas tiveram o apoio norte-americano tendo o Pentágono enviado para as costas brasileiras navios de guerra para garantir a derrubada do Presidente constitucional João Goulart e a instalação de um regime ditatorial sob o comando de civis e militares submissos aos interesses de Washington. Será que Paulo Bernardo desconhece história?

Como o Brasil foi considerado pêndulo da América Latina, como disse o então Presidente Richard Nixon, “para onde caminha o Brasil caminha o continente latino-americano”, o governo dos EUA continuou a agir com seus arapongas, muitos deles disfarçados e até contando com a ajuda de brasileiros nefastos e mercenários.

Em outros momentos da história da América Latina, vale o registro de fatos, como o de que alguns órgãos de imprensa receberam apoio financeiro da Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), como El Mercurio, do Chile, contemplado com 1,5 milhão de dólares. A publicação, por sinal, apoiou desde a primeira hora o golpe que derrubou o Presidente Salvador Allende.


Uma pergunta que não quer calar: quantos outros órgãos de imprensa de mercado receberam também a ajuda?


Mario Agusto Jakobiskind, Direto da Redação

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