A maior ameaça ao capitalismo hoje não é vermelha, nem azul e amarela. É branca. A cor da razão. O principal adversário ideológico do feudalismo não foi a justiça social, mas a lógica. A situação se repete hoje. A elite brasileira tem a sua própria idéia de capitalismo. As elites mundiais têm a sua própria idéia de capitalismo. A maior ameaça, ia dizendo, não é o comunismo, dado como irrealizável e, mesmo que o fosse, indesejado. A maior ameaça ao capitalimos não é uma revolução, onde quem lucraria, como sempre, seria indústria bélica. A maior ameça são reformas racionais.
A solução para a crise econômica mundial está diante de todos, mas todos se recusam a ver, apavorados, presos a dogmas ultrapassados e a velhos esquemas ideológicos. A solução é uma geral e irrestrita estatização do capital financeiro global e mudanças constitucionais que proibam a existência de bancos privados. Assim como a moeda é monopólio do Estado, a circulação da moeda também deve ser. O dinheiro é um bem público e deve ir para quem precisa dele, ou seja, cidadãos, empresários, artistas e donas-de-casa.
Ontem, conheci um sujeito muito boa praça. Um artista plástico de mente ágil, vasta cultura e incansável sede por novos conhecimentos. Num aspecto, contudo, revelou-se assustadoramente ingênuo. Contou-me que vivia, há muitos anos, no cheque especial do Itaú. Orgulhava-se disso. "O segredo é ter crédito! Tenho o mesmo banco, a mesma agência, há mais de quinze anos, e ganhei crédito ilimitado!". Sua conta oscila sempre em torno de 10 mil reais negativo, forçando-o a pagar milhares de reais, por mês, apenas de juros. Esse artista não tem renda fixa, não tem salário. Como vive? Como ocorre com milhões de brasileiros, é um enigma.
O que ele não percebe é que, em quinze anos, já pagou ao Itaú o equivalente a dois ou três apartamentos. Ele diz que dorme muito bem, não fica nervoso. Toca sua vida com grande tranquilidade. O dinheiro que ganha usa para adquirir peças de arte. "Quando meu cheque especial chega a 3 mil reais negativo, eu me sinto rico!", explicou-nos, lançando depois irônicas acusações sobre nossa preocupação burguesa com dívidas. No entanto, não percebe que o problema não é manter ou não uma estabilidade emocional. O problema é ser roubado.
Não aguentei e disse a ele: por que você não vende uma de suas peças de arte, paga sua conta no Itaú, encerra essa conta, e abre uma conta na Caixa Econômica Federal, uma conta poupança, que praticamente não tem taxa nenhuma, não oferece cheque especial nem cartão de crédito, e começa vida nova?
Casos como esses são incrivelmente comuns. A classe média brasileira, em peso, vive de cheque especial de Bradesco e Itaú. Muitos prefeitos e governadores, inclusive, realizam pagamento de seu funcionalismo nesses bancos, obrigando-os a entrar na toca da raposa. Minha mãe, professora aposentada do município do Rio, foi obrigada, pelo César Maia, a abrir uma conta no Itaú para receber seu salário. Isso é crime!
O problema do Brasil, hoje, não são os juros básicos do Banco Central. Se os brasileiros pagassem apenas 12% ao ano por suas dívidas, tudo bem. O problema são os juros de 1.000% do cheque especial, de 2.000% do cartão de crédito, de 3.000% da agiotagem institucionalizada.
Está aí uma crítica contundente que a oposição, se tivesse compromisso com o povo brasileiro, poderia fazer ao Lula. Podia cobrar do Lula uma lei que desse um fim à farra dos bancos. Podia, ainda, articular, com inteligência e debate, uma nova legislação que desse fim aos bancos privados, e decretasse o monopólio estatal da circulação financeira no país. Bancos privados não produzem dinheiro. Quem produz é o Banco Central. O capital de um país é valioso demais para ficar em mãos de playboys irresponsáveis. O capital é um bem público, que deve estar em poder de trabalhadores, empresários e donas-de-casa, através de bancos públicos que não cobrem nenhuma taxa.
Os bancos são os culpados pelas grandes crises econômicas do capitalismo moderno. Na Argentina, a quebradeira de bancos privados fez o país retroceder quase 100 anos de desenvolvimento. Aqui no Brasil, FHC deu quase R$ 80 bilhões aos bancos, através do Proer, com a desculpas de "salvar" a economia brasileira de uma quebradeira sistêmica.
Não tem sentido. Se os bancos são privados, qual o sentido do Estado salvá-los? Se a sua falência traz riscos tão grandes para a economia, está provado que a sua existência é um risco excessivo para a civilização. Bancos privados não podem existir, porque põem em risco o próprio capitalismo.
A maior imbecilidade da direita é associar um Estado forte ao comunismo. Quem precisa de um Estado forte é, sobretudo, o capitalismo, para regular a concorrência e estabelecer regras que tragam estabilidade e segurança às sociedades.
Qual a contribuição de um banco privado para o Brasil? O máximo que eles fazem é financiar peças de teatro da Regina Duarte com a lei Rouanet! Isso! Patrocinar aquelas merdas com meu dinheiro! E a Regina Duarte, não satisfeita, ainda vai em Brasília protestar e pedir mais!
Pelo bem do capitalismo mundial, acabem logo com essa excrescência final do feudalismo, os bancos privados.
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