sábado, 16 de agosto de 2008

ISSO É INADIMISSÍVEL



NOS PORÕES DA IMIGRAÇÃO

No NY Times desta quarta-feira (13), a triste história do chinês Ng Lui Hiu. Ele chegou aos EUA em 1992, quando tinha 17 anos, junto com os pais e a irmã mais nova. Continuou no país depois de vencido o visto e requereu o status de asilado político.
Enquanto isso, Hiu terminou o primeiro grau, entrou na faculdade, formou-se engenheiro de computador, fez estágio na Microsoft e trabalhava no Empire State Buinding, em Manhattan. Vivia com a mulher e os dois filhos numa casa no Queens, em Nova Iorque, onde aguardava a chegada do Green Card, requerido para ele pela esposa que tem a cidadania americana.
Mas ele não podia imaginar o que o futuro lhe reservava. Em 2001, uma convocação para comparecer à Corte foi enviada para um endereço inexistente. O juiz ordenou sua deportação, sem que ele fosse avisado. Em julho do ano passado, Hui foi fazer a última entrevista para receber o visto de residente permanente, o sonhado Green Card. De lá, ele não mais saiu. O oficial da imigração que o atendeu, mandou que o prendessem pois havia uma antiga ordem de deportação contra ele.
Hui ficou preso desde então em várias prisões. Em abril último, começou a queixar-se de fortes dores nas costas. Os analgésicos que lhe davam não faziam efeito. A família e os advogados imploraram pela sua liberação para que recebesse a assistência médica adequada. Nada comoveu a Imigração. Em 30 de julho ultimo, sem poder andar ou ficar de pé, e com manchas por todo corpo, Hui foi finalmente levado a um hospital. Mas era tarde. Os médicos dignosticaram um câncer que destruíra sua coluna vertebral e se espalhara por outras partes do corpo.Hui morreu semana passada, dois dias depois de completar 34 anos. Ou seja, passou metade de sua vida nos Estados Unidos. Apesar de ter mulher americana e dois filhos nascidos no país, ele foi ignorado pelas autoridades imigratórias. Morreu em condições de inacreditável indigência. Até uma cadeira de rodas lhe foi negada e ele ia ao banheiro com a ajuda de outros presos.
O caso dele não foi o primeiro e certamente não será o último. Aqui mesmo, no DR, comentei outro dia o caso do brasileiro Edimar Alves de Araujo, 34 anos, detido durante uma blitz de trânsito e levado em custódia por estar em situação irregular no país. A irmã dele, Irene, assim que soube do ocorrido, foi levar-lhe um medicamento contra epilepsia que ele não podia deixar de tomar. Mas ela não conseguiu convencer os policiais dessa necessidade e eles não permitiram a entrada do remédio. Horas depois o brasileiro morria sob a custódia do governo norte-americano.
Obama ou McCain, quem quer que seja o escolhido, terá que enfrentar o problema dos imigrantes indocumentados. É impossível protelar uma decisão que envolve milhões de pessoas que já estão incorporadas à sociedade americana, mas que podem a qualquer momento caír nas mãos da repressão policial e aí tudo pode acontecer.No ano passado, eram mais de 300 mil pessoas encarceradas nos porões da imigração, a grande maioria sem culpa formada, presas apenas pelo crime de não terem documentos legais. No Congresso dos EUA, se acumulam reclamações sobre maus tratos, falta de uma assistência médica adequada e violação dos direitos humanos.
Esses milhares de seres humanos, como o chinês Hui, querem apenas uma oportunidade de viver e trabalhar na “terra da liberdade”.
Eliakin Araújo

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