sábado, 16 de maio de 2009

IMPORTANTE É A VERSÃO E NÃO O FATO” – ESPECIALIDADE TUCANA


Laerte Braga
14-Mai-2009

A primeira vez que ouvi a frase foi da boca do ex-vice-presidente José Maria Alkimin. Referia-se a uma notícia publicada num dos grandes jornais do País a propósito de uma resposta que dera a empresários paulistas que foram lhe pedir que autorizasse um número maior de prestações nas vendas a crédito. Era ministro da Fazenda do governo JK.

Alkimin respondeu aos empresários que “nunca fui contra a venda prestações, sou contra a compra”.

O político mineiro tinha um jeito todo próprio de responder a jornalistas. Ou a eleitores.
Tucanos levam ao pé da letra o que Alkimin disse. Há entre tucanos e o político mineiro uma diferença. O vice de Castello nunca meteu a mão em dinheiro público e morreu com parcos recursos. Tucanos não. Mentem, fazem alarde publicitário da mentira e se sustentam na mentira.

O governo de Yeda Crusius naufraga desde o primeiro momento na corrupção. A governadora não tem a menor idéia do que seja tratar o dinheiro público como tal e muito menos seu sócio e marido nas apropriações indébitas, digamos assim. Yeda é invenção de Itamar Franco, o que pensa que foi presidente da República.

À época que ocupava o Planalto e FHC mandava e desmandava, Itamar ouviu referências a Yeda, viu uma foto, achou-a bonita, caiu por ela, arranjou-lhe um cargo de ministra e empregou o marido num segundo escalão qualquer. De lá para cá a moça amealhou uma fortuna. As referências que encantaram Itamar foram feitas por FHC.

Yeda é tucana, lógico. Soube hoje com precisão que os tucanos estão preocupados com a repercussão negativa dos seus atos à frente do governo do Rio Grande do Sul e pensam em apoiar a candidatura do prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, ao governo estadual em 2010. É uma velha tática de quadrilhas maiores ou menores, máfias. Não importa o que você tenha feito, importante é que faça de tal forma que não traga problemas. Se Yeda roubou e rouba é elementar, mas se começa a aparecer a defesa fica insustentável aí sim, é roubada. Coloca todo o esquema em risco.

Esquema é a candidatura do governador de São Paulo José Serra, principal nome do tucanato para as eleições ano que vem. Serra faz um governo de mentira, atolado em corrupção, sem uma única real solução para os problemas básicos que afligem o seu estado, mas segundo a mídia é uma espécie de gênio capaz de levar o Brasil aos píncaros do mundo.

Fez um contrato milionário de assinaturas de revistas da Editora ABRIL que edita VEJA. Garantiu apoio antecipado da mais podre dentre as podres revistas da grande mídia no Brasil.

Saiu agora um relatório sobre o que é a segurança pública em São Paulo. Dá a dimensão do que seja Serra.

Uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e que veio a público em 12 de maio, mostra que apenas 6% das pessoas mortas na guerra entre o PCC e a Polícia de São Paulo entre 12 e 20 de maio de 2006 tinham antecedentes criminais. Vale dizer que 94% eram inocentes. Vítimas do “mostrar serviço”. Foram 439 mortos. A maioria jovens e negros de bairros da periferia. Três anos depois do conflito 63% dos processos contra policiais estão arquivados. No entendimento da “lei”, agiram no “estrito cumprimento do dever”.

Na maior parte dos crimes a Ouvidoria da própria Polícia do governador Serra apontava indícios fortes de crimes cometidos por agentes das polícias civil e militar. Entre 12 e 21 de maio de 102 casos, policiais foram apontados como responsáveis por 170 mortes.

Segundo declarações de Serra, que não era o governador à época, mas prefeito de São Paulo, os policiais estavam apenas “levando tranqüilidade à população”. Serra prefeito era, então, candidato a governador do estado. A guerra entre o PCC e a Polícia criou um pânico coletivo em todo o estado e principalmente na capital.

A pesquisa foi realizada pelo laboratório de Análise da Violência da UERJ. Foram tomados como base para os dados finais os boletins de ocorrência dos crimes, confrontados com os laudos cadavéricos e laudos periciais. O resultado mostra, entre outras coisas, que 70% dos assassinados tinham apenas o primeiro grau, 96% das vítimas eram homens menores de 36 anos. Ignácio Cano, que coordenou a pesquisa afirma que “o nosso levantamento apontou que a maioria das vítimas tinha baixa escolaridade e pouca periculosidade, afinal, uma pequena porcentagem tinha um passado de crimes”. Outro dado dos “cuidados tucanos” com a segurança pública é que naquela época o índice de homicídios em São Paulo quadruplicou.

Os dados da pesquisa foram divulgados na sede do CREMESP (Conselho Regional de Medicina de São Paulo). Entidades de direitos humanos se fizeram presentes no protesto que a pesquisa em si traz, da maior crise policial da história do Brasil.

Há um movimento pela federalização dos processos (crimes dessa natureza são julgados pela justiça estadual) diante da impunidade geral assegurada por juízes e desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo, como é idéia denunciar o caso às Nações Unidas. Já há um grupo organizado de mães das vítimas e uma ONG chamada CONECTAS dá assistência jurídica a pelo menos dois casos da chacina.

O que os manifestantes desejam é que a Polícia Federal investigue os fatos, a Justiça Federal julgue os assassinos fardados ou da Polícia Civil. O caso vai ser levado à Corte Internacional de Justiça, que é parte da OEA – Organização dos Estados Americanos –.

O que é importante notar é que a ação criminosa do PCC permanece impune e a maioria esmagadora das vítimas da Polícia foram civis inocentes. Os riscos de um novo conflito entre Polícia e PCC continuam fortes.

No dia 15 de maio de 2066 policiais civis e militares determinaram que para cada baixa policial seriam mortos dez civis. Foram executadas sumariamente como atesta prova pericial 54 pessoas. Menos de cinco dessas pessoas eram criminosos. Quarenta e oito foram mortas sob a acusação de “resistir à prisão”. Menos de quatro eram criminosas.

Para José Serra importante aí vai ser a forma como a pesquisa vai se desdobrar, suas conseqüência e a versão passível de ser divulgada pela mídia, aquela que possa causar o menor dano possível à sua candidatura.

É isso que a governadora do Rio Grande do Sul não aprendeu em seus anos de tucanato. Pode roubar, pode deixar que roubem, pode fazer o diabo, mas é preciso não deixar transpirar, ou se isso acontecer, abafar com eficiência. Deveria tomar umas aulas extras com José Serra, ou com o governador de Minas, ambos especialistas no tema “o que vale é a versão e não o fato” e o de Minas, seu amigo de longa data.

Já os inocentes mortos pela Polícia de São Paulo, em 16 anos de governo tucano, esses, bem, na cabeça de Serra é só não chegar perto “dos porquinhos”, até porque os porcões como ele, querem é o voto do eleitor que conhece a versão, mas não conhece os fatos. Tem dado certo até agora a estratégia do governador FIESP/DASLU.

Os fatos não são noticiados na GLOBO. É do esquema Serra.
Enviada pela amiga Nancy Lima.

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