quarta-feira, 8 de abril de 2009

Recuo nos supermercados nao foi só culpa da crise

- 08/04/09



1 pequeno detalhe
Como faz todos os anos, a Nielsen reuniu ontem em Sao Paulo indústria, varejo e fornecedores para fazer uma avaliaçao do mercado brasileiro em 2008 e algumas projeçoes para 2009. Para começo de conversa, vale lembrar que nos últimos 15 anos o volume de bens de consumo vendidos nos super e hipermercados brasileiros simplesmente dobrou. Para você ter uma idéia da força do ciclo de prosperidade que a gente viveu recentemente, basta dizer que em 2005, ano que marcou o auge desse ciclo, 64% das categorias de produtos auditadas pela Nielsen tiveram aumento de volume e apenas 11% apresentaram queda. Porém, 2008 marcou uma forte desaceleraçao no consumo destes produtos, novamente de acordo com a Nielsen. Veja bem - o crescimento foi de apenas 0,5% em relaçao a 2007.

O curioso é que nao dá para colocar na conta da crise financeira global esse resultado tao tímido. O maior culpado foi o aumento dos preços das commodities, que subiram em média 34% na 1a metade do ano passado, elevando os preços nas prateleiras dos supermercados em 13%. É verdade que na 2a metade de 2008 as commodities despencaram, a ponto de custarem 4% menos em dezembro do que custavam em janeiro. O problema é que a indústria nao repassou os descontos para o varejo e os preços dos produtos industrializados fecharam o ano 10% mais caros. Isso, entao, afugentou o consumidor.

Além do problema do aumento do preços para o consumidor, houve outro fator importante - o deslocamento do dinheiro disponível para o consumo, principalmente nas classes C, D e E, para bens duráveis, fenômeno ajudado pelo crédito farto, barato e descomplicado que os brasileiros tinham à disposiçao no ano passado. Alguns números ajudam a ilustrar como foi significativa essa farra de consumo nos eletrodomésticos. Em 2007, apenas 48% dos nossos lares de classe C tinham uma máquina de lavar em casa. Em 2008, esse percentual subiu para 53%. Tem mais - 90% das residências das classes D e E tinham televisao em 2007, percentual que passou para 95% em 2008. Isso tudo, ainda segundo a Nielsen, ajudou, sem duvida, a esvaziar um pouco os carrinhos de compras nos supermercados brasileiros em 2008.

Nos dois primeiros meses de 2009, a desaceleraçao se manteve, agora já como consequência das notícias sobre a crise financeira global. Por isso, em 2009, além de ficar de olho na renda, na taxa de desemprego e na oferta de crédito, a indústria e o varejo também vao precisar se matricular num cursinho intensivo de psicologia, porque o humor dos consumidores tem oscilado feito uma montanha russa. E quando eles ficam mais pessimistas, reduzem a predisposiçao para o consumo. Prova disso é a pesquisa feita agora em março pela Nielsen, que mostrou que 45% dos brasileiros planejam reduzir despesas com alimentaçao fora do lar, 44% querem baixar gastos com telefonia móvel, 37% devem postergar compras de eletroeletrônicos, 30% vao dar um tempo na aquisiçao de roupas e 25% pretendem cortar programas de lazer. Já o abastecimento do lar deve ser afetado em apenas 17% das casas.

Isso significa que 2009 pode ser bem bom para quem vende alimentos, produtos de limpeza, higiene e cuidados pessoais. Porém, toda generalizaçao é perigosa. Alguns segmentos, como bebidas alcoólicas e nao alcoólicas estao com desempenho muito positivo e outros, como perecíveis e higiene pessoal, estao sofrendo mais, com consumidores trocando de marcas e caçando mais ofertas. Certo é que ninguém se arrisca a prever como 2009 vai terminar. A regra é acompanhar de perto e ir ajustando a estratégia de acordo com a mudança dos ventos ;- ). 08/04 Luiz Alberto Marinho. Blue Bus.

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