PAULO NOGUEIRA
A história – graças
a Deus – não é escrita pelas Organizações Globo, nem pelos editores da Veja,
nem pelos editorialistas do Estadão e da Folha. Se fosse, hoje o golpe de 1964
– no qual as empresas jornalísticas tiveram participação expressiva — seria glorioso
E eis que Celso de
Mello fala sobre o voto que deu a favor dos chamados embargos infringentes.
Primeiro ele
conversou com um jornalista amigo de sua Tatuí natal, e depois também com a
jornalista Mônica Bergamo, da Folha.
“Nunca a mídia foi
tão ostensiva para subjugar um juiz”, disse ele.
É fato. Mas é um
fato pela metade. Faltou dizer que nunca juízes do STF foram tão ostensivos
para subjugar um colega. O quer quer dizer o seguinte: nunca juízes da mais
alta corte do país foram tão pouco juízes, e sim carrascos.
A história vai
registrar, e a posteridade condenar, a atitude abjeta de três juízes em
particular: Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes e Marco Aurélio de Mello.
Barbosa adiou como
pôde o voto do decano, e com isso facilitou o trabalho de pressão da mídia.
Destaca-se, aí, a capa que a Veja deu no final de semana anterior ao voto
decisivo de Mello, uma capa desde já na galeria das piores coisas feitas nos 45
anos da revista.
Merece menção,
também, a indigna manchete do Globo segundo a qual Dirceu “desafiava” o STF
porque dizia que iria recorrer à OEA caso os embargos não fossem aceitos.
JB ao prolongar as
sessões – segundo relatos da mídia Celso de Mello numa ocasião disse que
votaria em cinco minutos para encerrar a questão, sem ser atendido – colaborou
com a mídia em sua louca cavalgada para que a Constituição fosse desrespeitada.
Mas nada foi tão
descarado como a ação de Gilmar Mendes e de Marco Aurélio de Mello. Os votos
longuíssimos – chicana – com os quais eles professoralmente defenderam o indefensável,
a conversa cínica e inconveniente que eles travaram diante das câmaras para
constranger o decano – tudo isso foi um monumento à torpeza disfarçada de
justiça.
Se as câmaras
pareceram em muitos momentos deslumbrar os juízes, e fizeram assim um mau
serviço ao país, naquela sessão elas registraram, para sempre, a ignomínia de
dois magistrados tramando para constranger um colega e arrastá-lo a um voto que
negaria a lei. Num momento de desassombro, e de oportuna perda de paciência, o
“novato” Barroso pôs fim a um diálogo que insultava os brasileiros e lhes deu
um — data venia — justo calaboca.
Tudo isso ficará
para a posteridade.
Tenho para mim que,
fora suas convicções, Celso de Mello levou em consideração exatamente a
posteridade.
A história – graças
a Deus – não é escrita pelas Organizações Globo, nem pelos editores da Veja,
nem pelos editorialistas do Estadão e da Folha. Se fosse, hoje o golpe de 1964
– no qual as empresas jornalísticas tiveram participação expressiva — seria
glorificado.
Celso de Mello sabe
disso. E com seu voto – não a favor dos réus, mas da lei – garantiu que na
história do julgamento dos embargos infringentes, um momento capital na moderna
história política brasileira, ele será lembrado com respeito e admiração pela
posteridade.
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