Davis Sena Filho
Somente um cidadão
pateta, mesmo se fosse conservador, não perceberia que o "mensalão" é
um processo e julgamento político
A AP 470 é um
processo longo e complexo, que é usado de forma política por juízes,
promotores, políticos e pela imprensa de mercado. A chicana, quem diria, veio
do condestável juiz e presidente do STF, Joaquim Barbosa. Ao perceber que o
juiz decano Celso de Mello estaria pronto para votar e desempatar o "jogo"
a favor da admissibilidade dos embargos infringentes (recursos cabíveis contra
acórdãos não unânimes proferidos pelo Tribunal) encaminhados pelos advogados de
defesa de 11 acusados, JB não se fez de rogado e adiou a sessão e o voto do
decano para o dia 18 de setembro.
Nada como um dia
após o outro — reza o ditado popular —, pois salutar se torna lembrar que o
juiz Ricardo Lewandowski foi acusado por Joaquim Barbosa de fazer chicana, com
a finalidade de prolongar o processo do mensalão. A verdade é que Lewandowski
estava apenas a realizar a leitura de sua revisão quanto aos processos
relatados pelo relator do caso no STF, o juiz Joaquim Barbosa, presidente da
mais importante Corte do Poder Judiciário deste País.
Lewandowski se
sentiu desrespeitado, e reagiu com indignação ao furor tão comum ao presidente
do STF. JB tem se mostrado um homem nervoso, agressivo e useiro e vezeiro em
tratar com desdém, ferocidade e autoritarismo as pessoas que ele considere não
estarem de acordo com a sua maneira de pensar e interpretar os códigos do
Direito, as leis do País, a Constituição e o regimento interno do Supremo.
O magistrado dá a
impressão ainda que os fatos, as realidades e as causas que envolvem seriamente
as pessoas e que porventura tenham que passar pelo seu crivo são apenas meros
acontecimentos originados dos autos de inquéritos repassados pela Procuradoria
Geral da República. Entretanto, o processo mexe profundamente com as vidas dos
cidadãos acusados de cometer crimes como formação de quadrilha e corrupção ativa.
Esses fatos não podem ser tratados por um tribunal de um estado democrático de
direito com interesse político e partidário e muito menos midiático.
Marco Aurélio de
Mello, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Carmem Lúcia e Joaquim Barbosa se comportaram
como um time de futebol que ao perceber que vai perder resolve fazer catimba e
"melar" o jogo. O decano Celso de Mello disse que daria seu voto em
cinco minutos sobre a questão da aceitação ou não dos embargos infringentes,
que constam no regimento interno do STF e que tem força de lei, além de prever
a possibilidade de condenados pelo Supremo recorram da decisão quando houver
pelo menos quatro votos pela absolvição.
Celso de Mello
disse em 2012 que era favorável aos embargos infringentes. Sua opinião consta
em vídeos que circulam pela internet, bem como foi veiculada nos jornais
televisivos e na mídia impressa. Sabedores dos votos favoráveis dos juízes
Ricardo Lewandowski, Roberto Barroso, Dias Toffoli, Rosa Weber e Teori
Zavascki, além de Celso de Mello aos embargos infringentes, o juiz Marco
Aurélio leu o seu longo voto e depois passou a polemizar com o juiz Barroso, de
forma açodada e até mesmo desdenhosa ao chamá-lo de "novato".
Joaquim Barbosa
encerrou a sessão e deu como argumento a seguinte pérola ou chicana: "O
ministro Celso de Mello disse que já tem seu voto pronto, mas como três
ministros já se ausentaram por conta da sessão no TSE, declaro esta sessão
encerrada". Volto a lembrar: Celso de Mello disse que pronunciaria seu
voto em cinco minutos, e mesmo assim o juiz JB não lhe deu ouvidos e adiou a
votação, que daria um placar de 6 a 5 para os magistrados favoráveis aos
embargos infringentes, ou seja, a um novo julgamento de 11 dos acusados,
conforme o regimento interno do STF.
Joaquim Barbosa
prolongou o julgamento e não ouviu ninguém da imprensa inquisidora a chamá-lo
de chicaneiro ou de usar seu cargo de presidente do STF a favor de pressões
vindas da mídia de negócios privados, que quer porque quer a prisão dos
envolvidos com o "mensalão". JB deu a oportunidade de a imprensa
corporativa pressionar durante quase uma semana o decano Celso de Mello para
que ele mude seu voto e opinião, bem como sua consciência no que concerne aos
embargos infringentes dos quais é favorável.
Ora meça! Os réus
têm direito ao contraditório e ao amplo direito de defesa. Ser acusado por meio
de provas tênues como disse certa vez o ex-procurador Roberto Gurgel a respeito
do ex-ministro José Dirceu é a desfaçatez em toda sua essência e amplitude.
Ressalta-se ainda que julgar alguém pelo cargo que ocupou e supostamente por
estar em tal posição ser obrigado a saber o que está acontecer em seus
pormenores é um absurdo. Provas têm de ser colhidas, comprovadas e de forma
inquestionável e absoluta, porque senão o julgamento se torna julgamento à moda
Torquemada.
Os juízes
conservadores do STF e que estão a fazer política partidária e ideológica há
quase dez anos cometeram chicana e jogaram o decano Celso de Mello às aves de
rapina da mídia comercial e privada, que, sistematicamente, tenta pautar o
Governo Federal e as instituições republicanas, ao tempo que faz política no
lugar dos derrotados PSDB, DEM e PPS. Joaquim Barbosa, Marco Aurélio de Mello e
Gilmar Mendes, principalmente estes, são juízes que demonstraram,
inequivocamente, seus compromissos com o lado reacionário dos conservadores
deste País.
São inúmeros os
atos e ações desses juízes em prol dos interesses do campo da direita
brasileira. O voto de Gilmar Mendes, por exemplo, foi um jogral de ataques
políticos ao PT. Com voz altissonante, tal juiz de ações jurídicas e pessoais
bastante questionáveis, atacou um partido como se a maior agremiação política
deste País e que mudou o Brasil em apenas 11 anos fosse composta por bandidos.
Quando um juiz de direita, de conduta pessoal e profissional fortemente
questionada por parte da sociedade se comporta dessa maneira é porque ele não
respeita os milhões de cidadãos brasileiros que votaram no PT e nos seus
aliados.
Gilmar Mendes é
assíduo freqüentador lugares públicos e privados onde circulam políticos
tucanos e do DEM. Participa, inclusive, de reuniões sociais, de lançamentos de
livros de ataques políticos e pessoais ao ex-presidente Lula, ao PT, ao José
Dirceu, o que, indubitavelmente, não condiz com o cargo que ocupa, pois ele é
um dos juízes que julgam o "mensalão". Todavia, este juiz autoritário
e direitista não foi ao lançamento do livro "A Privataria Tucana". É
público e notório seu preconceito pelo PT e por todo e qualquer movimento
social e popular. Como também é bastante conhecidos seus hábeas corpus
concedidos ao banqueiro Daniel Dantas e ao médico Roger Abdelmassih, dentre
muitos outros casos polêmicos e, irrefragavelmente, questionáveis pela
sociedade.
Gilmar Mendes
passou a semana a ir ao gabinete do ministro Celso de Mello para tentar
convencê-lo a votar contra o direito de os réus em ter ampla defesa, por
intermédio também dos embargos infringentes. Tal juiz nunca se comportou como
juiz, mas, evidentemente, como político tucano, ligado ao PSDB e nomeado pelo
ex-presidente FHC — o Neoliberal I — que neste momento faz pressão para que o
juiz Celso de Mello não vote a favor de conceder o direito aos embargos
infringentes.
Somente um cidadão
pateta, mesmo se fosse conservador, não perceberia que o "mensalão" é
um processo e julgamento político. A mídia e os partidos de direita e a classe
média coxinha e reacionária precisam da condenação de José Dirceu, de José
Genoíno e de Delúbio Soares como os seres vivos necessitam de ar para viver. As
eleições de 2014 vêm aí, e os adversários da direita são Dilma Rousseff e Lula,
duas lideranças do PT muito fortes eleitoralmente. É preciso virar o jogo, e
por isto não é à toa que Celso de Mello vai ficar uma semana sob pressão da
mídia, principalmente das revistas Época, da família Marinho, e Veja, da
família Civita.
Os tucanos nunca
precisaram tanto de condenações para politicamente se fortalecer. Por sua vez,
esquecem de seus golpes e falcatruas, escândalos e compra de votos, da Siemens
e da Alstom — do mensalão tucano. Eles se arvoram de paladinos da justiça, da
moral e dos bons costumes, mas se elencarmos seus escândalos e incompetências e
colocarmos no papel, tais incongruências são materiais para a publicação de um
livro grosso como um dicionário.
Merval Pereira, por
exemplo, simboliza todo o ardor e desejo tucanos para prender petistas. O
colunista de direita é autorizado pelos irmãos Marinho a ser suas vozes. Porém,
perdeu o rumo e o prumo. Se os réus do "mensalão" puderem recorrer
aos embargos infringentes, Merval é capaz de cortar os pulsos, não tanto por
indignação, mas, sobretudo, por saber que neste País a Constituição e o estado
democrático de direito ainda são respeitados. O que resta agora é esperar, no
dia 18 de setembro, o voto do juiz severo e garantista Celso de Mello. É isso
aí.
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