Eduardo Guimarães
Por que fracassou a
"Operação 7 de setembro"? Para começar a entender, é preciso rever o
que esteve por trás de sua articulação
Certos grupos
políticos amanheceram, no domingo, de cabeça inchada, tal qual o torcedor de
futebol que, no dia anterior, viu seu time ser goleado. Apostaram que 7 de
setembro marcaria a interrupção da recuperação de popularidade pelo governo
Dilma, bem como pela própria, por obra e graça de imensas manifestações que
voltariam a ocorrer no país.
Ao longo das
últimas semanas, a blogosfera e as demais redes sociais foram inundadas por
comentários de militantes políticos de extrema-direita – e, também, de partidos
que se intitulam "de esquerda" mas que fazem a alegria da direita,
tais como PSOL e PSTU – que anunciavam o apocalipse para o que chamam de
"governismo".
As primeiras
páginas dos grandes jornais no "day after" do pretenso "dia do
juízo final para o PT", entretanto, coroaram o rotundo fracasso da
tentativa da centro e da extrema-direita e de seus aliados na "esquerda
que a direita adora" de conseguirem, por meio de protestos de rua, o que
as urnas vêm lhes negando ao longo da última década e no limiar desta.
Mas por que
fracassou a "Operação 7 de setembro"? Para começar a entender, é
preciso rever o que esteve por trás de sua articulação. Nesse aspecto, matéria
de um colunista da revista Carta Capital chamado André Barrocal, formulada sob
o eloquente título "O Desfile Golpista", esclarece melhor quem esteve
por trás do malogrado plano de destruição política.
Abaixo, um trecho
da matéria.
—–
(...)
O alvo da
"Operação Sete de Setembro" é a presidenta Dilma Rousseff. O caráter
político-ideológico da "operação" fica claro quando se identificam
alguns de seus fomentadores pela internet. Entre os mais ativos consta uma ONG
simpatizante de uma conhecida família de extrema-direita do Rio de Janeiro, os
Bolsonaro. E um personagem ligado ao presidente da Assembleia Legislativa e do
PSDB paranaenses, Valdir Rossoni. É uma patota e tanto. Envolvidos em algumas
denúncias de corrupção, não surpreenderia se eles mesmos virassem alvo de
protestos.
A ONG em questão é
a Brazil No Corrupt – Mãos Limpas, sediada no Rio. Seus principais integrantes
são dois bacharéis em Direito, Ricardo Pinto da Fonseca e seu filho, Fábio
Pinto da Fonseca. Há cinco anos eles brigam nos tribunais contra a Ordem dos
Advogados do Brasil na tentativa de acabar com a exigência de uma prova para
obter o registro de advogado. Os dois foram reprovados no exame da OAB. Em sua
página na internet e no Twitter, a ONG promove a "Operação Sete de
Setembro" e a campanha Eu não voto em Dilma: Eleição 2014, Brasil sem PT.
Um dos principais
parceiros da entidade nas redes sociais é o deputado estadual fluminense Flávio
Bolsonaro, do PP. Pelo Twitter, ele compartilha informações, opiniões e iniciativas
da ONG. A dobradinha extrapola o mundo virtual. Bolsonaro comanda na
Assembleia do Rio uma frente para acabar com a prova da OAB. Em Brasília, a ONG
conseguiu um neoaliado, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha,
que encampou a ideia de extinguir o exame.
Filho do deputado
federal Jair Bolsonaro, Flávio tem as mesmas posições do pai, célebre
representante da extrema-direita nacional. Os Bolsonaro são contra o casamento
gay, as cotas raciais nas universidades e os índios. Defendem a pena de morte e
a tortura. Chamam Dilma de "terrorista" por ter ela enfrentado a
ditadura da qual eles sentem saudade. "Naquele tempo havia segurança,
havia saúde, educação de qualidade, havia respeito. Hoje em dia, a pessoa só
tem o direito de quê? De votar. E ainda vota mal", declarou o Bolsonaro
mais jovem não faz muito tempo.
A ONG adota
posturas parecidas com aquela dos parlamentares. Em sua página na internet, um
vídeo batiza de "comissão da veadagem" alguns dos críticos da
indicação do pastor Marco Feliciano para o comando da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara. Divulga ainda um vídeo de teor racista contra nordestinos,
no qual o potencial candidato do PT ao governo do Rio, o senador Lindbergh
Farias, nascido na Paraíba, é chamado de... "paraibano".
(...)
—-
Como se vê, os
articuladores de uma jornada de protestos abraçada pelas extremidades esquerda
e direita do espectro político são "tutto buona gente"...
Não foi por outra
razão que a mídia conservadora, apesar de seu recém-proclamado
"arrependimento" por ter se envolvido tão intimamente com uma
ditadura militar que massacrou e roubou desavergonhadamente o Brasil por mais
de duas décadas, tratou de divulgar o quanto pôde os mega protestos que (não)
ocorreram no último sábado.
Durante o 7 de
setembro, na emissora de tevê a cabo Globo News, por exemplo, a jornalista Leilane
Neubarth parecia tentar dirigir as manifestações, enquanto torcia pela invasão
do Congresso Nacional por um grupelho de militontos que ali se manifestava.
Ironicamente, porém, pouco depois, na mesma Capital Federal, a sede da Globo na
cidade seria atacada.
Apesar disso, a
mídia oposicionista passou o dia enfocando até briga de vizinhos para tentar
inflar a repercussão das manifestações. Foi tudo tão patético que uma charge
sobre esse comportamento midiático (abaixo) circulou o dia inteiro pelas redes
sociais.
O revés da direita
em um dia em que planejava o juízo final para o governo Dilma e para o PT,
porém, não parou por aí. O tradicional protesto Grito dos Excluídos, que ocorre
todo ano no 7 de setembro e que tem um viés diametralmente oposto ao dos
extremistas de direita e esquerda, levou (abaixo) esqueletos da Globo às
escadarias da Catedral da Sé, em São Paulo.
Ainda em busca de
compreensão sobre o fracasso da "Operação 7 de setembro", há que
analisar a questão da imensa massa de inocentes úteis que passou a ser
instrumentalizada a partir de junho e que ao longo de julho e agosto foi
pulando fora do barco golpista.
Um dos motes do que
os entusiastas daquela estupidez chamaram de "jornadas de junho" foi
o de que "O Gigante" teria "acordado", ou seja, de que o
país teria descoberto que estava sendo mal governado pelo PT, quando, em
verdade, quem luta de verdade pela democracia jamais dormiu, estando aí os
movimentos sociais e sindicais que não deixam mentir com suas lutas históricas
por direitos civis.
Muito ao contrário
do que dizem, portanto, o "Gigante" jamais esteve adormecido. O que
ocorreu, a partir de junho, é que ele foi embriagado por espertalhões que
manipularam as massas e se valeram de vândalos para criarem um clima no país
que conspurcou sua imagem diante do mundo.
No fim de agosto
(29/8), aliás, este Blog antecipou que os protestos dos últimos meses
provocaram desmoralização internacional do Brasil, no post Política e ideologia
conspurcam a imagem do Brasil no exterior. No último dia 6, o jornalista
Fernando Rodrigues, em seu blog, publica post sob o título "Cobertura
negativa sobre o Brasil na mídia internacional bate recorde após protestos de
junho".
O texto de
Rodrigues mostra que "O número de reportagens com teor negativo sobre o Brasil
veiculadas na imprensa internacional atingiu 36% do total no 2º trimestre do
ano, um recorde desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2009".
Segundo o
jornalista, "Foram 425 reportagens negativas nos meses de abril, maio e
junho, de um total de 1.167, segundo levantamento da agência Imagem Corporativa
em 15 veículos internacionais. O principal motivo da alta é a cobertura dos
protestos de rua de junho".
Tudo isso somado, o
que se conclui é que o "Gigante" está em processo de retorno da
"viagem" em que mergulhou nos últimos meses, com a sociedade se dando
conta de que não havia sentido em repudiar um governo que melhorou tanto a vida
dos brasileiros, tirando dezenas de milhões da miséria e, na contramão do resto
do mundo, proporcionando grande oferta de empregos e salários cada vez
melhores.
A mídia
conservadora tenta "explicar", agora, o fracasso da ofensiva
antidemocrática das extremidades do espectro político. Diz que os brasileiros
desembarcaram do porre dos últimos meses em razão do grupo Black Bloc – que
rejeita ser chamado de grupo.
Matéria da Folha de
São Paulo do primeiro dia útil desta semana reproduz explicação do escritor e
jornalista norte-americano Chris Hedges, apoiador do Occupy Wall Street,
movimento crítico ao modelo atual de capitalismo que chacoalhou os EUA em 2011
e 2012.
Segundo Hedges,
"Entregar os protestos para o Black Bloc' ou deixar que esse movimento o
sequestre é o que afasta as massas e transforma o movimento em marginal,
exatamente o que o Estado quer", pois a violência "Faz as pessoas
terem medo dos protestos", além de facilitar a infiltração policial".
A avaliação não faz
sentido, pois a força dos protestos de junho em diante no Brasil, que obrigaram
o Estado a ceder a reivindicações como a de baixar o preço das tarifas de
ônibus, esteve justamente no vandalismo, que tornou as manifestações
insuportáveis. Sem o vandalismo, elas poderiam ser suportadas e, assim, o
Estado não teria que ceder.
Sem violência, o Estado
recupera as condições de diálogo com a sociedade. Por isso, o quebra-quebra foi
a grande arma das oposições à direita, à esquerda e na mídia para criar no país
o clima que propiciou a queda estrondosa da popularidade de Dilma, que agora se recupera. Para
desespero do fascismo, o Gigante está ficando sóbrio.
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