Por Davis Sena
Filho — Blog Palavra Livre
EDUARDO CAMPOS DEU UMA PEDRADA NA POMBA SOCIALISTA.
Todo mundo sabe que
o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, sempre militou politicamente no
campo da esquerda, bem como é de conhecimento geral que ele é neto de um dos
ícones da esquerda brasileira, o governador Miguel Arraes, falecido em 2005 e
que ficou no exílio por longos 14 anos, por força da ditadura militar.
É de conhecimento
público também que a sigla PSB significa Partido Socialista Brasileiro,
agremiação política fundada em 1947, extinta pelo Ato Institucional nº 2, em
1965, e recriada, em 1985, com a volta da democracia no Brasil, a partir de
1982 quando aconteceram as eleições para governadores naquele ano.
O PSB é um dos dois
partidos de esquerda que sempre foi aliado do PT. O outro é o PCdoB, que se
juntou a ambos, em uma luta política e partidária de âmbito nacional, que desde
as primeiras eleições presidenciais, em 1989, tem marcado os dois partidos. O
PDT também fez parte dessas alianças, mas algumas vezes teve candidato próprio
e se aliou ao PT no segundo turno. O PT e o PSB são ideologicamente próximos em
vários propósitos e questões políticas, mas a partir de 2012 estão a se
afastar, porque o presidente do PSB, Eduardo Campos, tem um projeto pessoal,
que o leva a se aproximar da direita brasileira.
Os socialistas
recentemente filiaram políticos de direita e até mesmo de extrema direita em
vários estados, a exemplo da oligarquia catarinense dos Konder Bornhausen,
representada por Jorge e Paulo, sendo o primeiro conspirador e golpista de
primeira hora quando do golpe militar de 1964, e o segundo, seu filho,
igualmente conservador, eram os donos do DEM de Santa Catarina, o pior partido
do mundo, bem como controlaram a UDN, a Arena, o PDS e o PFL naquele estado,
pois siglas históricas do que há de mais atrasado e reacionário em termos ideológicos,
econômicos e sociais no Brasil.
Se esses partidos
de direita e já extintos dos Bornhausen, além do DEM, existissem no século XIX,
não tenho quaisquer dúvidas, pois certamente seriam favoráveis ao sistema de
escravidão. Contudo, o leitor conservador que está agora a ler este artigo,
exclama: “O PT também se aliou a direitistas para chegar ao poder”. E eu respondo: “Acontece que o PT fez
alianças em âmbito partidário e institucional. Os governos trabalhistas de Lula
e de Dilma Rousseff formaram governos de coalizão para terem maioria no
Congresso. Por sua vez, nenhum político direitista entrou nos quadros do PT,
que é o partido majoritário no Planalto cujo projeto de País e programa de
Governo são efetivados, paulatinamente, no decorrer dos últimos 11 anos, apesar
da campanha negativa e insidiosa da qual o Partido dos Trabalhadores é alvo,
por parte da imprensa de mercado e de setores reacionários da sociedade
brasileira”.
E eis que de
repente e não mais do que de repente, o governador pernambucano resolve se
candidatar a presidente da República, sem ter estrutura partidária e muito
menos sua figura ser conhecida pelos brasileiros. Eduardo Campos é a esquerda
que toda direita gosta. Entretanto, é também o socialista que seu avô, Miguel
Arraes, não gostava. O político que se considera socialista se mostra um
quinta-coluna e trai e praticamente rompe com a coligação histórica com o PT e
PCdoB, para se aventurar em um voo baixo, sem rumo e desprovido de projeto e
programa para o Brasil.
Por seu turno, Campos
enfrenta reações no próprio partido cuja parte da Executiva e dos governadores,
deputados e senadores discordam da intenção de o governador se afastar de uma
aliança de 24 anos, que proporcionou a Eduardo Campos administrar seu estado
com vultuosos investimentos, pois Pernambuco, depois do Rio de Janeiro, é o
estado que foi mais beneficiado pelos presidentes trabalhistas e socialistas de
Lula e Dilma Rousseff.
Abrir as portas
para direitistas históricos e oportunistas que sempre combateram a esquerda
brasileira é uma desfaçatez de Eduardo Campos e coloca o PSB em uma situação de
agremiação de aluguel. Aliar-se a um partido da expressão simbólica e histórica
do DEM não é coisa simples, porque se trata de um partido umbilicalmente ligado
à ditadura militar, por ser o espólio autêntico da UDN, que tanto fez mal ao
desenvolvimento socioeconômico do Brasil, bem como inegavelmente combateu,
severamente, a emancipação do povo brasileiro.
O DEM, por seu
histórico, não é o PMDB ou o PR. Não é! Ponto. Sei que muita gente, por questão
ideológica e preconceito de toda monta, vai discordar. Entretanto, para quem
conhece um pouco de história do Brasil e de seus partidos, sabe do que eu estou
a tratar. Não se discute a história com mentiras e manipulações de toda ordem,
como o faz, sistematicamente, a imprensa alienígena e de passado e presente
golpistas.
O DEM representa,
efetivamente, tradicionalmente e historicamente a vertente politicamente
conservadora deste País. O DEM tem história, apesar das trocas de siglas. Ele é
a verdadeira direita brasileira desde os tempos do Império. A outra vertente
política e genuinamente brasileira é a trabalhista, que teve quatro
representantes no poder, a exemplo de Getúlio Vargas, João Goulart, Lula e
Dilma, sem me esquecer do personagem de grandeza nacional, o governador Leonel
Brizola, um dos políticos históricos deste País. Todos eles personalidades
trabalhistas; e todos sofreram, e muito, nas mãos da direita escravocrata
brasileira.
Considero absurdas
as ações e as atitudes do governador Eduardo Campos, que é, volto a repetir, a
esquerda que a direita gosta. E ele sabe disso. Age dessa forma equivocada
porque, na verdade, o político pernambucano é um socialista a meia bomba,
mequetrefe, e que sempre foi aliado do PT por falta de espaço político nas
hostes dos conservadores, pois, no caso de Campos, ser mais conservador do que
a direita canavieira de Pernambuco é a mesma coisa que se uma pessoa entrar no
mar e querer nadar melhor do que um peixe.
Todavia, com o
fracasso da direita brasileira em termos eleitorais e programáticos cujo maior
exemplo é o PSDB, Eduardo Campos percebeu que se abria uma oportunidade para
que ele se apresentasse como uma nova via política, que, prontamente, recebeu o
apoio da golpista imprensa burguesa (aquela que cinicamente chama as
manifestações de “pacíficas” enquanto os que protestam jogam merda e pedras em
suas sedes), que ora tem de ser prudente, calculista e oportunista, porque é
aliada há 20 anos dos tucanos paulistas, que nos últimos anos foram três vezes
derrotados pelo PT e seus aliados, entre eles o governador Eduardo Campos.
Quem conhece a
história dos partidos e suas diversas correntes ideológicas e programáticas
sabe do que eu estou a falar. A direita perdeu a vergonha. Alia-se a qualquer
candidato que ela perceba que pode, ao menos, fazer sombra aos atuais
candidatos do PT, a ser os dois principais a presidenta Dilma Rousseff e o
ex-presidente Lula, que já avisou que o candidato do Partido dos Trabalhadores
é a atual presidenta.
A verdade é que a
corrente direitista brasileira está tão desmoralizada, que até mesmo o ex-presidente
tucano Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I — aquele que, humilhado, foi
ao FMI três vezes, de joelhos e com o pires nas mãos, porque quebrou o Brasil
três vezes —, veio da esquerda. A verdade é que Fernando Henrique e José Serra
sempre foram “esquerdistas” mequetrefes, a pisarem salões nobres e por isto não
é à toa que eles são o que são: os coxinhas totalmente descompromissados com os
interesses do Brasil e completamente sem vocação e vontade de conhecer
realmente o povo brasileiro. O Brasil profundo.
Os dois governaram
o Brasil e São Paulo não como mandatários e estadistas, mas, obviamente, como
mercantilistas, gerentes a fazerem deste País uma gigantesca feira de negócios
com o patrimônio público brasileiro que eles não construíram, pois quem
edificou o Brasil moderno foram os trabalhistas. Muito pelo contrário, a
direita brasileira quando esteve no poder sempre tirou do povo, o explorou, o
oprimiu e nem emprego lhe garantiu, como bem demonstram os índices e os números
do desgoverno de FHC, o vendilhão da pátria e que se acha no direito de abrir a
boca para tentar “ensinar” aquilo que ele não aprendeu e nunca teve vontade de
fazer, porque governou somente para os ricos.
O problema maior de
Eduardo Campos é exatamente ter de dividir a atenção da direita empresarial
brasileira, da imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) e
dos partidos de direita, porque os de esquerda estão na coligação do PT. E por
quê? Porque vai ser muito complicado para o campo conservador largar o PSDB do
senador Aécio Neves, que até hoje, mesmo a ser o candidato da direita, sofre
rejeição dos tucanos paulistas, aqueles mesmos que se acham a última coca-cola
do mundo e que confundem o conhecimento formal acadêmico com sensibilidade
social e experiência de vida. Uma burrice acadêmica e tucana, não?
A verdade é que
Eduardo Campos tem os Konder Bornhausen como aliados e neste momento o velho
Arraes deve estar dando voltas em seu túmulo, e a se indagar: Por que, meu
Deus? Os Bornhausen Jorge e Paulo estão no PSB. É de se tirar o chapéu para o
oportunismo dos dois, pois são as essências e as representações do atraso
político, do retrocesso social, do egoísmo econômico e financeiro e conseguem
entrar no PSB. Seria cômico se não fosse trágico. Os Bornhausen socialistas...
Logicamente que
Eduardo Campos está completamente mordido pela mosca azul. Perdeu os sentidos e
deve se considerar um gênio da política, bem como o consideram assim os
jornalistas da imprensa rastaquera, que está perdida entre Aécio ou a qualquer
um que possa, enfim, derrotar o PT e a sua candidata. Eduardo Campos deu um
tiro no pé ou nos dois. Realmente, ele é a esquerda que a direita adora. É isso
aí.
Um comentário:
O PSB se perdeu no rumo e na ideologia quando aceitou a filiação da oligarquia Ferreira Gomes. Os FG não tem ideologia alguma, apenas a fome pelo poder. Em 30 anos de carreira política, eles já esão no sexto partido: Arena, PDS, PMDB, PSDB, PPS e PSB. as ainda é tempo de rever esse erro absurdo.
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