Você não consegue
desmoralizar o que já está desmoralizado, a despeito de perorações como a de
Merval – ele mesmo sem muito crédito para falar em moral", diz o
jornalista Paulo Nogueira, editor do Diário do Centro do Mundo
Por Paulo Nogueira,
do Diário do Centro do Mundo
Há um certo alarido
no twitter neste final de semana contra um artigo de Merval no Globo.
Li o texto, e o que
mais me impressionou foi a cara de pau do autor. Merval quer mesmo que
acreditemos no que ele escreve? A mesma pergunta se pode fazer a outros
colunistas do gênero: eles desejam mesmo que o leitor acredite no que escrevem?
Vejamos.
No texto que li,
Merval diz que o Supremo pode entrar num processo de “desmoralização” caso –
evidentemente – os recursos infringentes sejam aprovados.
Que autoridade tem
Merval para dizer isso? Ora, ele é um dos principais colunistas de uma
corporação que lesa o país há décadas.
A Globo,
recentemente, foi desmascarada numa sonegação de 1 bilhão de reais, em dinheiro
de hoje. Num golpe que dá cadeia em países socialmente mais avançados, a Globo
comprou os direitos da Copa de 2002 e, para fugir dos impostos, afirmou que
estava investindo no exterior.
Não bastasse, o
processo que prova o caso quase que desapareceu pelas mãos de uma funcionária
da Receita – libertada pelo ínclito Gilmar Mendes. O sumiço beneficiaria apenas
e apenas a Globo, e conta muito sobre o Brasil e sua mídia que jornal nenhum
tenha corrido atrás do caso.
O próprio Merval,
embora presente em virtualmente todas as mídias da Globo, é PJ na empresa. Com
isso, ele e empregador pagam menos impostos do que deveriam.
E ele vem falar de
“desmoralização”?
Merval poderia
tentar fazer este ponto aos jovens que justificadamente esculacham a Globo,
símbolo da iniquidade e das mamatas nacionais.
Que tal?
Pessoalmente,
duvido que ele acredite no que escreve. Acho que, como um ator de novelas, ele
faz um papel. Há sempre a hipótese de ignorância também: colunistas
conservadores parecem desconhecer a pilhagem histórica do dinheiro público
pelas empresas jornalísticas. O BNDES sempre foi generoso, os anúncios oficiais
eram pagos com tabela cheia quando os demais anunciantes tinham descontos
colossais, não era e não é cobrado imposto sobre o papel etc etc.
O Supremo não corre
risco de desmoralização. Por uma razão: já está completamente desmoralizado. Ou
merece respeito uma corte cujos integrantes mantêm uma relação promíscua com
jornalistas e escritórios de advocacia? (A foto deste artigo, em que Merval
confraterniza com Gilmar Mendes, é um horror ético.)
Fux estava
recebendo uma festa de aniversário do dono de um grande escritório carioca. O
presente absurdo só não se realizou porque a história vazou.
Joaquim Barbosa
pagou uma viagem a uma jornalista do Globo – num avião da FAB – para que ela
escrevesse matérias (pagas, usemos a palavra certa) sobre nem se sabe mais o
que na Costa Rica.
O mesmo JB gastou
90 mil reais do dinheiro público para reformar banheiros do apartamento que lhe
cedem em Brasília. E ainda conseguiu um emprego para seu filho na Globo.
Ora, com que
isenção ele poderia julgar, por exemplo, o caso de sonegação da Globo?
Marco Aurélio Mello
e Gilmar Mendes se entregaram nesta semana a uma indecente chicana para evitar
o voto decisivo do decano sobre os recursos infringentes. Com isso, a pressão
sobre Celso de Mello pôde ser redobrada. É só ver coisas como o próprio artigo
de Merval e a capa da Veja desta semana com o decano.
Desmoralização? De
quem?
Ficou claro, no
Mensalão, que o método de escolha dos juízes não poderia ser pior. O critério é
político e não técnico. Lula, como se sabe, escolheu Joaquim Barbosa por ser
negro e não por ser brilhante – a que preço.
FHC é responsável
por Gilmar. Dilma conseguiu escolher Fux porque ele, num lobby insano, prometeu
“matar no peito” o caso do Mensalão. Outra vez, a que preço.
Tudo isso – tornado
público – transformou o STF numa piada. Merval parece fingir que leva o STF a
sério, mas acho que a fala de Wellington se aplica aqui: quem acredita nisso
acredita em tudo.
A fala empolada e
cínica dos magistrados – “os magníficos votos” de cada um são sempre
sublinhados por quem vai contra tanta magnificência – torna, além do mais, o
STF distante dos brasileiros médios.
Na Inglaterra, o
juiz que cuidou dos debates sobre os limites da mídia – Brian Leveson – se
expressava num inglês claro e compreensível a qualquer britânico alfabetizado.
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