João Gomes
Celso de Mello, até
então reverenciado por quem não trata de casuísmos e interesses difusos como
ministro já histórico, como irá escrever o seu nome na história, notadamente em
face da prostituição público/política do debate?
Em França, conta
Evandro Lins e Silva em sua obra imortal A Defesa tem a Palavra (aide, 3ª
edição, 1991, pg. 33), que no debate de uma causa, Cesar Campinchi, atuando na
acusação, invocou a opinião pública em seu favor. Na ocasião rebateu-o Vicent
Moro Giaferri (o defensor):
"Maître
Campinchi vos dizia a toda hora que a opinião pública estava sentada entre vós.
Expulsai-a, essa intrusa. É ela que ao pé da cruz gritava:
"Crucificai-o". Ela, com um gesto de mão, imolava o gladiador
agonizante na arena. É ela que aplaudia aos autos da fé da Espanha, como ao
suplício de Calas. É Ela enfim que desonrou a revolução francesa pelos
massacres de setembro, quando a farândola ignóbil acompanhava a rainha ao pé do
cadafalso. A opinião pública está entre vós, expulsai-a, essa intrusa... Sim, a
opinião pública, esta prostituta, é quem segura o juiz pela manga".
Passados mais de
dois séculos do evento, ontem, no Supremo, ouvi dois juízes debatendo: um dizia
dever respeito a opinião pública; outro à sua consciência...
Lembrei-me, na
hora, de Evandro. Lembrei-me, também de Vitor Nunes leal, e de outros ministros
que foram cassados pelo regime de chumbo, por conta de deferirem ordens de
Habeas Corpus em desagrado aos interesses do regime de exceção – aquele regime
que, recentemente, um veículo de comunicação de conceituada família midiática
assumiu ter auxiliado...
Evandro segue, até
hoje, reverenciado como um dos maiores (inclusive deixou-nos o Técio para
continuar sua belíssima história); Vitor Nunes leal deixou um legado tão
magnífico que se pode dizer que ninguém menos do que o grandioso Sepúlveda
Pertence foi seu dileto discípulo...
E Celso de Mello,
até então reverenciado por quem não trata de casuísmos e interesses difusos
como Ministro já histórico, como irá, efetivamente, escrever o seu nome na
história, notadamente em face da prostituição público/política do debate?
Não sei e nem tenho
a pretensão de sabê-lo. Abomino, entrementes, como cidadão e Advogado, o teatro
consumitório que lhe preparou a banda política da Corte Suprema.
Rogo, todavia, que
ele decida de conformidade com sua consciência, suposto que o mais famoso dos
juízes que ouviu a opinião pública foi pôncio pilatos, que não deixou saudade
nem o nome em bom destaque histórico sendo, sempre e somente, lembrado por ter
se acovardado em face da opinião pública que, hoje, deve ser entendida enquanto
opinião publicada.
Em tempo: pedirão
desculpas, outra vez? Quando?
*Advogado
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