No primeiro contato
com pacientes de bairro carente da cidade de Contagem (MG), na região
metropolitana de Belo Horizonte, nesta quarta-feira (4), a médica paulista
Rosângela dos Santos, inscrita no Mais Médicos, disse que o principal desafio
no novo local de trabalho será suprir as expectativas dos moradores.
A cidade, segundo a
Secretaria Municipal de Saúde, solicitou 54 médicos ao governo federal, mas
apenas seis brasileiros se inscreveram para as vagas. Somente Santos compareceu
até o momento para ocupar a vaga.
Formada em dezembro
do ano passado em Vassouras (RJ), a médica se inscreveu no programa Mais
Médicos e deixou a família na cidade de Valença (RJ). A cidade mineira não foi
a primeira opção dela quando se cadastrou no programa. "Os munícipios que
eu escolhi antes foram Ubá (MG) e São José do Rio Preto (SP), mas é o
Ministério da Saúde que decide a cidade, não é negociável", explica.
Santos dará
expediente de oito horas por dia em uma Unidade Básica de Saúde (UBS)
localizada em Nova Contagem, bairro de baixa renda do município mineiro.
"É um desafio enfrentar uma comunidade muito carente e necessitada onde
eles acham que você vai suprir todas as necessidades e (resolver) problemas
deles. Eles têm uma sede de saúde, são órfãos de saúde e de profissionais
que os acolham. Mas eu vou aprender
junto com eles, vai ser uma troca", destacou.
A profissional
revelou que a acolhida dos moradores já fez com que ela se sentisse bem.
"É um impacto muito grande porque é uma mudança radical. Você vai para um
lugar que não conhece, mas eu fui muito bem recebida aqui. O mineiro tem um
coração generoso", disse após ter atendimento dez pacientes na parte da
manhã."Foi maravilhoso, todos ficaram muito felizes. A maior gratificação
foi ouvir um 'obrigado' deles. É como se o médico fosse um mágico na vida de um
paciente. Eu me emociono com muitas histórias que ouço deles, graças a
Deus", contou.
Em relação ao local
de trabalho e sobre as críticas feitas por médicos ao ambiente laboral, a
médica disse que a unidade tem "muito a melhorar", mas ressaltou que
isso não será empecilho para a sua permanência. "Vai melhorar, a gente tem
que acreditar", afirmou.
Resistência aos
médicos estrangeiros
Santos afirmou que
os médicos estrangeiros deveriam ser recebidos de outra maneira por colegas
brasileiros que criticam a vinda desses profissionais para atuar em áreas
carentes. "Eu não tenho nada contra a vinda dos estrangeiros, que sejam
muito bem-vindos, porque eles vêm para somar. Aos meus colegas brasileiros,
apenas digo que a gente tem que experimentar o diferente para saber se é
bom", declarou.
A médica também
disse que cumprirá o contrato firmado com a prefeitura local, que ajudará com o
pagamento da hospedagem e alimentação durante o programa. "Vai ser uma
troca de experiência muito profunda que vai deixar uma grande marca. Eu aposto
no programa", disse.
No entanto, ao
lembrar da família que deixou para trás, os olhos da médica ficam marejados.
"O coração ficou meio apertado porque sou casada e tenho dois filhos, um
de doze e outro de onze anos. Quando disse que iria participar do programa,
recebi muito apoio deles", relembrou. Santos ainda garante que tentará
visitar a família todos os fins de semana ou, no máximo, de 15 em 15 dias.
A família aguardará
a evolução e adaptação da médica na região antes de cogitar uma mudança para a
cidade mineira.
Reclamação e
esperança
Do lado de fora,
pacientes que aguardavam para serem atendidos no local afirmaram ao UOL que o
atendimento médico na unidade de saúde é ruim. No entanto, a expectativa é que
o atendimento melhore com a chegada da nova profissional.
A dona de casa
Letícia Lercina Alves da Silva, 25, aguardava para fazer exame de pré-natal aos
seis meses de gravidez. "Nunca tem médico aqui. A gente faz pré-natal com
enfermeira. Ultimamente, as consultas eram feitas com enfermeiros", relatou.
Após ser alertada
sobre a chegada de mais uma médica, a paciente se mostrou esperançosa.
"Tenho fé que vai melhorar. Eu sou brasileira e a esperança é a única
coisa que nós temos de bom", revelou.
Ritielly Alves, 18, que
também faria exame de pré-natal, revelou que uma consulta com um médico
especialista no posto leva mais de um ano para ser realizada. "Que eles
sejam bem-vindos, acho que vai melhorar", afirmou ao se referir aos
profissionais do Mais Médicos.Uol
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