quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Médica paulistana dá lição de vida aos coxinhas de jaleco



No primeiro contato com pacientes de bairro carente da cidade de Contagem (MG), na região metropolitana de Belo Horizonte, nesta quarta-feira (4), a médica paulista Rosângela dos Santos, inscrita no Mais Médicos, disse que o principal desafio no novo local de trabalho será suprir as expectativas dos moradores.


A cidade, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, solicitou 54 médicos ao governo federal, mas apenas seis brasileiros se inscreveram para as vagas. Somente Santos compareceu até o momento para ocupar a vaga.

Formada em dezembro do ano passado em Vassouras (RJ), a médica se inscreveu no programa Mais Médicos e deixou a família na cidade de Valença (RJ). A cidade mineira não foi a primeira opção dela quando se cadastrou no programa. "Os munícipios que eu escolhi antes foram Ubá (MG) e São José do Rio Preto (SP), mas é o Ministério da Saúde que decide a cidade, não é negociável", explica.

Santos dará expediente de oito horas por dia em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) localizada em Nova Contagem, bairro de baixa renda do município mineiro. "É um desafio enfrentar uma comunidade muito carente e necessitada onde eles acham que você vai suprir todas as necessidades e (resolver) problemas deles. Eles têm uma sede de saúde, são órfãos de saúde e de profissionais que  os acolham. Mas eu vou aprender junto com eles, vai ser uma troca", destacou.


A profissional revelou que a acolhida dos moradores já fez com que ela se sentisse bem. "É um impacto muito grande porque é uma mudança radical. Você vai para um lugar que não conhece, mas eu fui muito bem recebida aqui. O mineiro tem um coração generoso", disse após ter atendimento dez pacientes na parte da manhã."Foi maravilhoso, todos ficaram muito felizes. A maior gratificação foi ouvir um 'obrigado' deles. É como se o médico fosse um mágico na vida de um paciente. Eu me emociono com muitas histórias que ouço deles, graças a Deus", contou.

Em relação ao local de trabalho e sobre as críticas feitas por médicos ao ambiente laboral, a médica disse que a unidade tem "muito a melhorar", mas ressaltou que isso não será empecilho para a sua permanência. "Vai melhorar, a gente tem que acreditar", afirmou.


Resistência aos médicos estrangeiros

Santos afirmou que os médicos estrangeiros deveriam ser recebidos de outra maneira por colegas brasileiros que criticam a vinda desses profissionais para atuar em áreas carentes. "Eu não tenho nada contra a vinda dos estrangeiros, que sejam muito bem-vindos, porque eles vêm para somar. Aos meus colegas brasileiros, apenas digo que a gente tem que experimentar o diferente para saber se é bom", declarou.

A médica também disse que cumprirá o contrato firmado com a prefeitura local, que ajudará com o pagamento da hospedagem e alimentação durante o programa. "Vai ser uma troca de experiência muito profunda que vai deixar uma grande marca. Eu aposto no programa", disse.

No entanto, ao lembrar da família que deixou para trás, os olhos da médica ficam marejados. "O coração ficou meio apertado porque sou casada e tenho dois filhos, um de doze e outro de onze anos. Quando disse que iria participar do programa, recebi muito apoio deles", relembrou. Santos ainda garante que tentará visitar a família todos os fins de semana ou, no máximo, de 15 em 15 dias.

A família aguardará a evolução e adaptação da médica na região antes de cogitar uma mudança para a cidade mineira.


Reclamação e esperança

Do lado de fora, pacientes que aguardavam para serem atendidos no local afirmaram ao UOL que o atendimento médico na unidade de saúde é ruim. No entanto, a expectativa é que o atendimento melhore com a chegada da nova profissional.

A dona de casa Letícia Lercina Alves da Silva, 25, aguardava para fazer exame de pré-natal aos seis meses de gravidez. "Nunca tem médico aqui. A gente faz pré-natal com enfermeira. Ultimamente, as consultas eram feitas com enfermeiros", relatou.

Após ser alertada sobre a chegada de mais uma médica, a paciente se mostrou esperançosa. "Tenho fé que vai melhorar. Eu sou brasileira e a esperança é a única coisa que nós temos de bom", revelou.

Ritielly Alves, 18, que também faria exame de pré-natal, revelou que uma consulta com um médico especialista no posto leva mais de um ano para ser realizada. "Que eles sejam bem-vindos, acho que vai melhorar", afirmou ao se referir aos profissionais do Mais Médicos.Uol

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