Eduardo Guimarães
Ao que tudo indica,
a oposição irá à campanha de 2014, mais uma vez, para tentar enganar o país e
falar mal de um governo que, queiram ou não, tem mostrado resultados que todos
sentem em seu cotidiano, sobretudo no bolso
Durante os últimos
quatro meses, o Brasil passou por um vaivém político que constituiu a primeira
grande novidade desde 2002, quando Lula destronou os grupos políticos que
governaram o país desde sempre, inclusive durante a ditadura e em outros
períodos em que viveu sem democracia. A novidade? O governo petista sofreu
imensa perda de popularidade.
Antes de
prosseguir, uma longa, mas necessária, digressão.
O grande feito
político da era Lula – que prossegue sob Dilma Roussef – tem sido manter no
poder por já quase uma década um grupo político ideológico com um projeto
político-administrativo bem definido, voltado para o objetivo maior de resgatar
a quase inacreditável – de tão grande – dívida social brasileira, sobretudo no
que diz respeito à desigualdade.
Claro que, para
chegar ao poder e operar tais mudanças, o PT “teve” que aderir a práticas
tradicionais da política.
Em 2006, o
ator-militante Paulo Betti definiu bem a mudança de estratégia adotada pelo
partido em 2002, quando dobrou resistências e chegou ao poder com o outrora
“temido” Lula, que a elite, a mídia e o capital diziam que transformaria o
Brasil em uma espécie de super Cuba.
“Não dá para fazer
política sem botar a mão na merda”, disse Betti após uma reunião de apoio de
artistas à candidatura de Lula, na casa do então ministro da Cultura, Gilberto
Gil, no Rio. Criticado à exaustão pelos hipócritas de plantão, ele se referia
justamente ao que foi o mensalão: caixa-dois.
O PT não comprou
voto algum. Só um vigarista intelectual pode afirmar que o partido compraria
seus próprios deputados, que receberam a grande maioria do dinheiro
“não-contabilizado”. Mas usou, sim, caixa-dois porque, no Brasil, sem esse
expediente ninguém vencia eleição, em 2002. Hoje, após o escândalo do mensalão,
ficou mais difícil, mas todos sabem que continua sendo usado.
Voltando ao tema
central do texto. Sob essa premissa de que os fins justificam os meios –
execrada, mas que é usada inclusive pelos seus maiores críticos, muitas vezes
sem que os fins sejam tão nobres quanto o de resgatar dívida social –, o PT
logrou operar um avanço social inédito na história do país e o tornou
resistente a crises externas.
A queda de
popularidade de Dilma após os protestos cataclísmicos de junho, porém, animou a
oposição de uma classe social, empresarial, financeira, étnica e, sobretudo,
midiática.
No Congresso, os
ratos de sempre se prepararam para abandonar o navio. A mídia, triunfante,
passou a incentivar os protestos sob a premissa de que “agora, vai” –
conseguiria, enfim, desmoralizar o governo petista e pavimentar o caminho, de
preferência, para o PSDB, mas, na pior das hipóteses, para aquela que vem se
oferecendo como a nova anti-Lula: Marina Silva.
Entre as traições
que a queda episódica de popularidade de Dilma fez surgir, a de Eduardo Campos,
governador de Pernambuco, que vem se dispondo a atrapalhar a reeleição de Dilma
em troca de se cacifar para voos futuros, porque não se elege presidente em
2014 nem que a vaca tussa.
Pesquisa Ibope
divulgada na última quinta-feira, porém, mostra que a “morte” de Dilma foi
comemorada cedo demais. Todos os prováveis adversários – Marina Silva, Aécio
Neves e Eduardo Campos – caíram. Só ela subiu. E bem.
Contudo, os números
do Ibope só confirmam o que outras pesquisas já vinham mostrando. Mas a
oposição e a mídia, animadas com a queda estrondosa da popularidade e das
intenções de voto de Dilma entre junho e julho, continua se autoenganando.
Aécio, Marina, Eduardo Campos e a mídia vêm afirmando que está chegando ao fim
a era petista, ou lulista.
Este analista
político discorda. E muito. Por uma simples razão: o brasileiro, como já ficou
provado, não dá bola a moralismo sobre corrupção, ao votar – sabe que os
críticos do PT não têm moral pra acusar ninguém. Por isso, o brasileiro vota
com o bolso. Ponto.
E quem diz isso não
sou eu, mas o marqueteiro Renato Pereira – coordenador da campanha eleitoral
derrotada de Herique Capriles na recente eleição presidencial na Venezuela. Ele
irá coordenar a campanha tucana a presidente, ano que vem, e, em entrevista à
Folha de São Paulo na semana que finda, afiançou que o “mensalão” não irá
ajudar seu cliente.
O que derrubou a
popularidade de Dilma, em junho e julho, foi a expectativa forjada pela mídia e
referendada pelos protestos de rua de que o país estava indo para o buraco
econômico. Inflação, emprego, salários e renda das famílias não sofreram nenhum
grande baque, mas ver gente na rua quebrando tudo estimulou parte da sociedade
a crer que o barco estaria afundando.
A 114ª rodada da
pesquisa CNT/MDA, por exemplo, foi a campo entre 7 e 10 de julho e contrastou
fortemente com a 113ª, levada a campo entre 1 e 5 de junho. Entre as datas de
conclusão das duas pesquisas, passaram-se 35 dias. Nesse período, no cenário
mais provável para a eleição de 2014, Dilma Rousseff perdera 19,4 pontos
percentuais, Marina Silva ganhara 8,2 pontos, Aécio Neves perdera 1,8 pontos e
Eduardo Campos ganhara 3,7 pontos.
A aprovação do
desempenho pessoal de Dilma caiu 24,4 pontos, indo de 73,7% na pesquisa
anterior para 49,3%, e a desaprovação ao seu governo subira de 20,4% para
47,3%, uma alta de 26,9 pontos, ou 131,8% de aumento.
Já a aprovação ao
governo caíra de 54,2% para 31,3%, perda de 22,9 pontos devido, sobretudo, ao
aumento dos percentuais de ruim (que foi de 5,5% para 13,9%) e péssimo (que foi
de 3,5% para 15,6%).
A própria pesquisa
explicou a razão de piora tão acentuada no capital político de Dilma Rousseff e
de seu governo. Pioraram, então, pontos altamente sensíveis das expectativas do
brasileiro em relação ao futuro, sobretudo na percepção do que ocorreria com o
mercado de trabalho, no qual a expectativa de aumento do desemprego saltara de
11,5% em junho para 20,4% em julho.
Nada disso se
confirmou. Na última quinta-feira, a taxa de desemprego nas seis regiões
metropolitanas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) ficou em 5,3% em agosto, o que é considerado pelos analistas “pleno
emprego”. Como se não bastasse, o rendimento médio dos salários voltou a subir,
segundo o IBGE, indo a R$ 1.883.
Alguém com mais de
20 ou 25 anos de idade se lembra de semelhante situação em algum outro momento
de sua vida?
Nem todos,
obviamente, estão contentes com o governo Dilma. Segundo o pesquisador Renato
Meirelles, do instituto Data Popular, informou em entrevista ao Portal IG, os
serviços mais caros e o enriquecimento das classes C e D geraram desconforto
entre os endinheirados.
O primeiro
parágrafo da matéria resume por que as classes sociais mais abastadas sentem
tanta ojeriza ao governo Dilma:
“Na última semana,
o lançamento do iPhone 5C levantou uma polêmica entre usuários nas redes
sociais. Com a Apple dedicando esforços à popularização de seus produtos, houve
quem reclamasse que os smartphones da marca, antes restritos a uma minoria
privilegiada, virariam ‘coisa de pobre’ (…)”.
Mas não são apenas
os endinheirados avulsos que odeiam Lula e Dilma por terem colocado pobres em
aeroportos, shoppings e até em universidades que, antes, eram “coisa de rico”.
Os banqueiros, por
sua vez, estão babando de raiva com a queda dos juros comandada pelo governo,
que pôs bancos oficiais para reduzirem suas taxas, obrigando a concorrência a
segui-los – e, mesmo com as altas recentes da Selic, o brasileiro, hoje, ainda
paga juros muito menores graças à iniciativa do governo.
Os grandes grupos
empresariais de geração de energia ou as multinacionais do setor petrolífero
estão a reclamar do “intervencionismo” do governo, que reduziu a lucratividade
das geradoras de energia elétrica e estabeleceu condições duras para os
interessados em explorar nossas imensas reservas de petróleo”.
Empresas de planos
de saúde, empreiteiras que querem explorar concessões de estradas e tantas
outras. Enfim, o capital não anda nada satisfeito com Dilma. Com um tucano no poder seria tudo tão mais
fácil para essa gente…
Nesse aspecto, a
recente capa da revista inglesa The Economist reflete justamente o
descontentamento do grande capital nacional e transnacional com o governo
“intervencionista” de Dilma. Não passa, pois, de politicagem, em parceria com o
grande capital brasileiro.
A oposição e a
mídia que lhe faz coro e que a mantém viva, assim, continuam entregues ao
autoengano que as levou às eleições de 2006, de 2010 e até de 2012. Seguem
apostando no moralismo contra a corrupção e em vender a um povo que está
ganhando salários cada vez maiores, pondo filhos na faculdade e encontrando
emprego com facilidade crescente que o Brasil estaria indo a pique,
economicamente.
Não vai ser fácil.
Sobretudo em época de campanha, quando os alvos da campanha
oposicionista-empresarial-midiática terão horário na tevê para convencer as
pessoas a refletirem se vale a pena arriscar a bonança econômica vigente em
troca de moralismo de quinta e terrorismo econômico infundado.
A oposição
tucano-marinista-midiático-empresarial continua apostando em que somos um país
com 200 milhões de débeis mentais que não conseguem enxergar como as suas vidas
melhoraram. E que viram muito bem quem é quem na polêmica sobre o programa Mais
Médicos, quando a elite com plano de saúde tentou convencer um povo que sofre
com falta de médicos de que não são médicos que faltam, mas “estrutura”, quando
tantos estão cansados de ver hospitais montadinhos nas periferias e nas cidades
dos grotões que não funcionam porque não têm… médicos.
Na mesma
quinta-feira de tantas boas notícias na economia, inclusive no Jornal Nacional,
vai o PPS à TV dizer que estamos no fundo do poço e, apesar de o mesmo PPS ser
um partido cheio de denúncias de corrupção (vide o escândalo do Cachoeira),
derramando-se em moralismo fajuto “contra a corrupção”.
Ao que tudo indica,
a oposição irá à campanha de 2014, mais uma vez, para tentar enganar o país e
falar mal de um governo que, queiram ou não, tem mostrado resultados que todos
sentem em seu cotidiano, sobretudo no bolso.
O mais irônico é
que foi um conservador do campo da mídia, dos grandes empresários, dos
banqueiros e das multinacionais que melhor teorizou sobre o autoengano. Eduardo
Giannetti da Fonseca é autor de Autoengano, livro sobre “as mentiras que
contamos a nós mesmos”. A oposição destro-tucano-marinista-empresarial-midiática
deveria lê-lo.
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