segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Hipocrisia na política





É urgente entender que muitos dos arautos da honestidade e da razão na política brasileira não passam de hipócritas

Profundos conhecedores de expedientes de corrupção, caixa dois em campanhas eleitorais, malversação de dinheiro público, entre outras atividades do gênero, muitos daqueles que hoje criticam os governos petistas e tentam a qualquer custo igualar nossa postura à de bandidos, não passam de hipócritas de primeira linha.

Devemos analisar os fatos da história recente brasileira usando o mesmo peso e a mesma medida para todos. Ao mesmo tempo que a mídia comercial e os inimigos do Brasil de plantão criticam e tripudiam sobre a política econômica da presidenta Dilma, sobre o destinos dos condenados petistas na Ação Penal 470, se emudecem totalmente sobre fatos, indícios e provas de irregularidades no ninho tucano. Em um país de conjuntura política séria muito menos estremeceria a Nação.

Quando políticos e sociedade proclamam nas ruas a necessidade de uma reforma política, existem perguntas que carregam a própria resposta, quando se trata, por exemplo, da postura de financiamento de campanhas políticas:

De onde veio o dinheiro para as viagens de Gilberto Kassab, ex prefeito de São Paulo por todo o país quando organizava a fundação do PSD, nos anos de 2010 e 2011?

De onde vem o dinheiro para que Marina Silva organize a nível nacional a Rede?

Que empresários e com que intenções investem na formação de um partido político?

Por que a imprensa comercial, o Ministério Público, ou o Procurador-Geral da República à época, Roberto Gurgel, jamais se preocuparam com as denúncias do jornalista Amaury Ribeiro Jr, Prêmio Esso de Jornalismo, no livro "A Privataria Tucana"?

O livro, resultado de 12 anos de investigações sobre as privatizações no Brasil, mostra documentos de indícios e evidências de irregularidades em privatizações ocorridas na administração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, além de amigos e parentes de seu companheiro de partido, José Serra. Os documentos procuram demonstrar que estes políticos e pessoas ligadas a eles realizaram, entre 1993 e 2003, movimentos de milhões de dólares, lavagem de dinheiro através de offshores - empresas de fachada que operam em Paraísos Fiscais - no Caribe.

"Privataria Tucana" contém cerca de 140 páginas de documentos fotocopiados que evidenciam que o então Ministro do Planejamento e futuro Ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), José Serra, recebeu propina de empresários que participaram dos processos de privatização no Brasil.

Um outro livro mais recente vai além. Com "O Príncipe da Privataria", Palmério Dória vai ao centro do esquema e traça o perfil de um homem vaidoso, simpático, com fama de mulherengo, cujo propósito era vender estatais a preços irrisórios e, se necessário fosse, mudar as regras do jogo democrático.

Ele mostra como FHC foi o presidente que quebrou o Brasil, vendeu nosso patrimônio público e transformou o Congresso Nacional numa feira de mascates: a feira da reeleição - ponto alto do livro.

Em 1997, o repórter Fernando Rodrigues produzira uma série de reportagens históricas publicadas pela Folha de S. Paulo. Nelas, um certo "senhor X" apresentava gravações de reuniões em que deputados federais falavam abertamente sobre a venda de votos para aprovar a reeleição de Fernando Henrique no Congresso. O preço do voto: 200 mil reais.

O "senhor X" entregou as gravações ao Fernando Rodrigues, mas jamais mostrou o rosto. Palmério Dória agora mostra quem é o "senhor X". Ele tem nome, sobrenome e 16 anos depois dos fatos aceitou dar entrevista de peito aberto. Narciso Mendes, 67 anos, é empresário no Acre, e na época da reeleição de FHC era deputado federal. Por isso tinha acesso às reuniões em que se deu a tramóia.

Narciso Mendes recebeu o jornalista Palmério Dória, e relembrou toda a história – incluindo a forma como a base tucanista (no Congresso e na imprensa) conseguiu frear uma CPI para investigar a compra dos votos denunciada em 97.

"Nem Sérgio Motta queria CPI, nem FHC queria CPI, nem Luis Eduardo Magalhães queria CPI, ninguém queria porque sabiam que, estabelecida a CPI, o processo de impeachment ou no mínimo de anulação da emenda da reeleição teria vingado, pois seria comprovada a compra de votos", disse Narciso a Palmério Dória, segundo o livro.

Todos esses e aqueles que sempre torcem para que a inflação suba e o PIB desça para culpar por isso os governos petistas e pregar a volta de FHCs e Serras ao poder deviam se envergonhar, e entender que o povo não é burro e que o Brasil está mudando.

Será que estes políticos terão espaço num país cuja legislação, como vem sendo proposto pelos movimentos sociais, determine que se convoque obrigatoriamente plebiscitos e referendos sempre que ocorra a alienação de controles e abertura de capitais de empresas estatais ou sempre que ocorra mudanças constitucionais?

Com certeza votarão contra outra proposta inovadora: a simplificação no Congresso Nacional dos ritos de leis de iniciativa popular dando prioridade a elas na pauta das votações.

Como se comportarão os arautos da honestidade unilateral se for aprovado que as campanhas dos plebiscitos e referendos tenham na sua coordenação a participação das organizações da sociedade civil em pé de igualdade com os partidos ou frentes parlamentares?

Muitas das propostas de reforma do processo eleitoral defendidas pelos movimentos sociais deixa de cabelo em pé muitos destes políticos. Algumas delas são urgentes e vão contribuir para o fim da farsa no Legislativo: o fim da votação secreta; o fim da imunidade parlamentar a não ser no direito de opinião e denúncia; a implantação da fidelidade partidária; e a formação de federações partidárias nas eleições proporcionais por períodos longos entre partidos com programas políticos afins, que passariam a agir como se fossem um único partido, proibindo-se então as coligações oportunistas momentâneas.

O financiamento público que venho defendendo em outros artigos é fundamental para combater a mercantilização da política, a corrupção eleitoral, o poder dos grupos econômicos nos processos eleitorais e para favorecer a participação política de segmentos socialmente excluídos, como mulheres, afro-descendentes, indígenas, LGBT e jovens, entre tantos outros, no acesso à representação política.

A hora é de mudanças, e elas só serão benéficas se contarem com a participação popular e com o engajamento de cada um de nós, políticos e sociedade, agindo em parceria, mas utilizando o mesmo peso e a mesma medida em todas as situações. Abaixo a hipocrisia.

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