É urgente entender
que muitos dos arautos da honestidade e da razão na política brasileira não
passam de hipócritas
Profundos
conhecedores de expedientes de corrupção, caixa dois em campanhas eleitorais,
malversação de dinheiro público, entre outras atividades do gênero, muitos
daqueles que hoje criticam os governos petistas e tentam a qualquer custo
igualar nossa postura à de bandidos, não passam de hipócritas de primeira
linha.
Devemos analisar os
fatos da história recente brasileira usando o mesmo peso e a mesma medida para
todos. Ao mesmo tempo que a mídia comercial e os inimigos do Brasil de plantão
criticam e tripudiam sobre a política econômica da presidenta Dilma, sobre o
destinos dos condenados petistas na Ação Penal 470, se emudecem totalmente
sobre fatos, indícios e provas de irregularidades no ninho tucano. Em um país
de conjuntura política séria muito menos estremeceria a Nação.
Quando políticos e
sociedade proclamam nas ruas a necessidade de uma reforma política, existem
perguntas que carregam a própria resposta, quando se trata, por exemplo, da
postura de financiamento de campanhas políticas:
De onde veio o
dinheiro para as viagens de Gilberto Kassab, ex prefeito de São Paulo por todo
o país quando organizava a fundação do PSD, nos anos de 2010 e 2011?
De onde vem o
dinheiro para que Marina Silva organize a nível nacional a Rede?
Que empresários e
com que intenções investem na formação de um partido político?
Por que a imprensa
comercial, o Ministério Público, ou o Procurador-Geral da República à época,
Roberto Gurgel, jamais se preocuparam com as denúncias do jornalista Amaury
Ribeiro Jr, Prêmio Esso de Jornalismo, no livro "A Privataria
Tucana"?
O livro, resultado
de 12 anos de investigações sobre as privatizações no Brasil, mostra documentos
de indícios e evidências de irregularidades em privatizações ocorridas na
administração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, além de
amigos e parentes de seu companheiro de partido, José Serra. Os documentos
procuram demonstrar que estes políticos e pessoas ligadas a eles realizaram,
entre 1993 e 2003, movimentos de milhões de dólares, lavagem de dinheiro
através de offshores - empresas de fachada que operam em Paraísos Fiscais - no
Caribe.
"Privataria
Tucana" contém cerca de 140 páginas de documentos fotocopiados que
evidenciam que o então Ministro do Planejamento e futuro Ministro da Saúde de
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), José Serra, recebeu propina de empresários
que participaram dos processos de privatização no Brasil.
Um outro livro mais
recente vai além. Com "O Príncipe da Privataria", Palmério Dória vai
ao centro do esquema e traça o perfil de um homem vaidoso, simpático, com fama
de mulherengo, cujo propósito era vender estatais a preços irrisórios e, se
necessário fosse, mudar as regras do jogo democrático.
Ele mostra como FHC
foi o presidente que quebrou o Brasil, vendeu nosso patrimônio público e
transformou o Congresso Nacional numa feira de mascates: a feira da reeleição -
ponto alto do livro.
Em 1997, o repórter
Fernando Rodrigues produzira uma série de reportagens históricas publicadas
pela Folha de S. Paulo. Nelas, um certo "senhor X" apresentava
gravações de reuniões em que deputados federais falavam abertamente sobre a
venda de votos para aprovar a reeleição de Fernando Henrique no Congresso. O
preço do voto: 200 mil reais.
O "senhor
X" entregou as gravações ao Fernando Rodrigues, mas jamais mostrou o
rosto. Palmério Dória agora mostra quem é o "senhor X". Ele tem nome,
sobrenome e 16 anos depois dos fatos aceitou dar entrevista de peito aberto.
Narciso Mendes, 67 anos, é empresário no Acre, e na época da reeleição de FHC
era deputado federal. Por isso tinha acesso às reuniões em que se deu a
tramóia.
Narciso Mendes
recebeu o jornalista Palmério Dória, e relembrou toda a história – incluindo a
forma como a base tucanista (no Congresso e na imprensa) conseguiu frear uma
CPI para investigar a compra dos votos denunciada em 97.
"Nem Sérgio
Motta queria CPI, nem FHC queria CPI, nem Luis Eduardo Magalhães queria CPI,
ninguém queria porque sabiam que, estabelecida a CPI, o processo de impeachment
ou no mínimo de anulação da emenda da reeleição teria vingado, pois seria
comprovada a compra de votos", disse Narciso a Palmério Dória, segundo o
livro.
Todos esses e
aqueles que sempre torcem para que a inflação suba e o PIB desça para culpar
por isso os governos petistas e pregar a volta de FHCs e Serras ao poder deviam
se envergonhar, e entender que o povo não é burro e que o Brasil está mudando.
Será que estes
políticos terão espaço num país cuja legislação, como vem sendo proposto pelos
movimentos sociais, determine que se convoque obrigatoriamente plebiscitos e
referendos sempre que ocorra a alienação de controles e abertura de capitais de
empresas estatais ou sempre que ocorra mudanças constitucionais?
Com certeza votarão
contra outra proposta inovadora: a simplificação no Congresso Nacional dos
ritos de leis de iniciativa popular dando prioridade a elas na pauta das
votações.
Como se comportarão
os arautos da honestidade unilateral se for aprovado que as campanhas dos
plebiscitos e referendos tenham na sua coordenação a participação das
organizações da sociedade civil em pé de igualdade com os partidos ou frentes
parlamentares?
Muitas das
propostas de reforma do processo eleitoral defendidas pelos movimentos sociais
deixa de cabelo em pé muitos destes políticos. Algumas delas são urgentes e vão
contribuir para o fim da farsa no Legislativo: o fim da votação secreta; o fim
da imunidade parlamentar a não ser no direito de opinião e denúncia; a
implantação da fidelidade partidária; e a formação de federações partidárias
nas eleições proporcionais por períodos longos entre partidos com programas
políticos afins, que passariam a agir como se fossem um único partido,
proibindo-se então as coligações oportunistas momentâneas.
O financiamento
público que venho defendendo em outros artigos é fundamental para combater a
mercantilização da política, a corrupção eleitoral, o poder dos grupos
econômicos nos processos eleitorais e para favorecer a participação política de
segmentos socialmente excluídos, como mulheres, afro-descendentes, indígenas,
LGBT e jovens, entre tantos outros, no acesso à representação política.
A hora é de mudanças, e
elas só serão benéficas se contarem com a participação popular e com o
engajamento de cada um de nós, políticos e sociedade, agindo em parceria, mas
utilizando o mesmo peso e a mesma medida em todas as situações. Abaixo a
hipocrisia.
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