Paulo Nogueira
Fundamentalmente,
Dirceu paga o preço de sua opção teimosa pelo 99%. Mas quem vai julgá-lo
perante a história não é o 1%, representado por uma mídia que defende seus
próprios privilégios e finge se bater pelo interesse público
Ele é ainda mais
odiado que Lula, o que não é pouco.
Tenho minha tese.
De Lula era
esperado, mesmo, que estivesse do lado oposto ao da direita. Operário,
nordestino, nove dedos, pouca oportunidade de estudar.
Seria uma aberração
Lula se alinhar ao 1%, para usar a grande terminologia do movimento Ocupe Wall
Street.
Mas Dirceu não.
Ele tinha todos os
atributos para figurar no 1% que fez o país ser o que é, um dos campeões
mundiais de iniquidade, a terra das poucas mansões e das tantas favelas.
Articulado,
inteligente, dado a leituras. Bem apessoado. Na ótica do 1%, pessoas como Zé
Dirceu são catalogadas como traidoras, e devem ser punidas exemplarmente para
que outras do mesmo gênero, ou se preferirem da mesma classe, não sigam seu
exemplo.
Na França
revolucionária, a aristocracia entendia que os Marats, os Desmoullins, os
Héberts pregassem a morte do velho
regime, mas jamais conseguiu compreender o que levou o Duque de Orleans a
também lutar pela liberdade, pela igualdade e pela fraternidade.
O 1% brasileiro, na
história recente, soube sempre atrair equivalentes a Dirceu. Carlos Lacerda,
por exemplo, era de esquerda na juventude.
Depois, se tornou
um direitista fanático. Segundo relatos de quem o conheceu, ele se cansou da
vida dura reservada aos esquerdistas em seus dias e foi para onde o dinheiro
estava.
O 1% recompensa
bem. Nos dias de hoje, se você defende os privilégios, acaba falando na CBN,
aparecendo em entrevistas na Globonews, tendo coluna em jornais e revistas,
dando palestras muito bem pagas. E, com a carteira abastecida, ainda pode posar
de ‘corajoso’ defensor da ‘imprensa livre’.
Dirceu não fez a
trajetória de Lacerda. Não abjurou suas crenças.
E então virou o
demônio.
Quem o demonizou
foram exatamente aqueles que o adulariam se ele se vendesse. A imagem que a
mídia construiu de Zé Dirceu concentrou num único homem todos os defeitos
possíveis: vaidoso, arrogante, corrupto, inescrupuloso, maquiavélico.
Um monstro, enfim.
Pegou essa imagem?
Menos do que o 1% gostaria, provavelmente. Quem não se lembra de Serra, num
debate com Haddad, repetidas vezes tentar encurralar seu oponente com a
acusação de que era “amigo do Dirceu”?
Haddad reconheceu
tranquilamente a amizade, e quem terminou eleito não foi Serra.
Na mídia
tradicional, a campanha contra Dirceu desconhece limites jornalísticos e, pior
que isso, legais.
Um repórter tenta
invadir criminosamente o quarto do hotel que ele ocupa, e ainda assim é Dirceu
que aparece como o vilão do caso.
Quem conhece o
Dirceu real, com seus defeitos e virtudes, grandezas e misérias, são aqueles
poucos de seu círculo íntimo. Para eles não faz efeito o noticiário que o
sataniza. (Caso interesse a alguém, nunca votei em Dirceu e não o conheço
pessoalmente.)
De resto, esse
noticiário – ou propaganda – não é feito para eles, mas para os chamados
‘inocentes úteis’, aqueles que em outras épocas acreditaram no “Mar de Lama” de
Getúlio Vargas ou no “perigo comunista” representado por João Goulart.
É a imagem
demoníaca de Dirceu construída pela mídia que, nestes dias, é utilizada pela
maioria dos juízes do Supremo no julgamento do Mensalão.
Não chega a ser
surpresa. A justiça brasileira tradicionalmente foi uma extensão do 1%.
Estudiosos já notaram
a diferença da atuação da justiça no Brasil e na Argentina na época das duas
ditaduras militares.
No Brasil, a
justiça foi servil aos militares. Na Argentina, a justiça desafiou
frequentemente os militares ao declarar inocentes muitos acusados de “subversivos”.
Isso acabou levando
os militares argentinos a simplesmente matar milhares de opositores sem que
fossem julgados.
Fundamentalmente,
Dirceu paga o preço de sua opção teimosa pelo 99%.
Mas quem vai
julgá-lo perante a história não é o 1%, representado por uma mídia que defende
seus próprios privilégios e finge se bater pelo interesse público. E nem uma
corte em cuja história a tradição é o alinhamento alegremente pomposo com o 1%.
Um comentário:
Porque é um bandido igual a você, não precisa ser direita nem esquerda pra saber. Cara de pau... Sem vergonha!
Fica usando o twitter da tua filha pr brigar c os outros Sou burra Não!
Sei o jeitinho dela escrever e sei o teu; "" ops e tal "Rede Bobo"
Por que fica seguindo monte de artistas da Globo rs
Até a Nanda Costa tu segue...
Tu não tem vergonha na cara, né?
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