domingo, 30 de maio de 2010

Tucano joga contra a integração


Estamos em clima de Copa do Mundo, mas nem por isso podemos esquecer o que se passa por aqui e pelo mundo. A campanha eleitoral ainda não chegou a pegar fogo. Tivemos apenas um trailer do que vem por aí. Os meios de comunicação elegeram apenas três candidatos para apresentar. Os demais, entre os quais Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, figura histórica com participação ativa até antes de 64, um marco negativo da história brasileira, são redondamente ignorados. Independente do juízo de valores fica mal para o jornalismo esse tipo de cobertura.

Mas antes de passarmos a bola para a seleção de Dunga, vale a pena assinalar um fato grave partido de um dos candidatos à Presidência da República. Em entrevista para uma rádio carioca, o tucano José Serra não fez por menos em matéria de relacionamento com os países vizinhos. Gratuitamente, tentando fazer média com eleitores desavisados, o pré-candidato (todos são teoricamente pré até as convenções partidárias) demo-tucano acusou o governo boliviano de Evo Morales de “cúmplice do tráfico” de cocaína no Brasil.

A irresponsável declaração do ex-governador de São Paulo se deu quando ele falava sobre a criação de um ministério para área da segurança pública de combate, entre outros crimes, ao tráfico de drogas. Já foi comentado aqui neste espaço que se trata de uma declaração do tipo para enganar os incautos, até porque o tema em questão está afeto ao Ministério da Justiça e não necessita da criação de nada de especial, pois o que existe dá conta do recado.

A declaração de Serra sobre a Bolívia, com a complementação de que o governo Morales faz “corpo mole” no combate ao tráfico, é totalmente inverídica e só pode ser entendida como uma provocação barata à integração sul-americana, em processo adiantado de desenvolvimento no governo Lula.

Ao contrário do que afirmou Serra, o governo boliviano tem intensificado o combate ao narcotráfico, mas não se sujeita às pressões estadunidenses neste campo. Claro, se dependesse de Serra e seus correligionários, o Brasil nesta altura do campeonato estaria aceitando passivamente os desejos do Departamento de Estado e Pentágono, inclusive de transformar as Forças Armadas em um mero departamento de polícia para combater o tráfico. É a vocação histórica dos tucanos, como acontecia no anterior governo subserviente de Fernando Henrique Cardoso, na prática seguir o que manda quem ocupa a Casa Branca.

No mês de julho a campanha presidencial estará ocupando maiores espaços midiáticos e desta vez o tema política externa vai fazer parte do cardápio. Serra já adiantou alguns pontos de sua agenda, inclusive afirmando em alto e bom som que se fosse presidente do Brasil não iria a Teerã ou receberia a visita de Mahmoud Ahmadinejad. Agradaria sobremaneira a Madame Clinton. Foi uma indicação clara de que faria exatamente o que Washington determina, seja em relação ao Irã, como Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua e Cuba.

Outro ponto da questão externa tem sido as constantes declarações de Serra sobre o Mercosul. Já demonstrou concretamente que joga contra a integração da América, falar contra o Mercosul é apenas o reforço desse ponto de vista.

Mas os leitores se enganam se imaginam que a direitização de Serra se limita à política externa. O candidato da aliança PSDB, Demo e PPS (o partido dos ex-comunistas que viraram linha auxiliar dos seguidores de Washington) recentemente, falando sobre a questão dos portos, algo vital para o desenvolvimento de qualquer país, abriu o jogo ao afirmar que se for Presidente vai extinguir a Secretaria Especial de Portos, que vitalizou o setor. Sabem o motivo? É a concepção de desenvolvimento defendida pelo tucanato entreguista, que não coloca os portos como peças fundamentais para o país.

Na verdade, com palavras sofisticadas, Serra e sua gente defendem a privatização dos portos brasileiros, como tentaram em outras ocasiões através de mentiras e manipulações da informação, como no caso do porto de Paranaguá, medida impedida pelo então governador Roberto Requião. Certamente que o referido porto corre novamente perigo se os paranaenses elegerem um governador das fileiras tucanas ou da patota dos Democratas, que já estiveram no governo com o farsante Jaime Lerner. Farsante é todo aquele político que em campanha diz uma coisa e ao ser eleito faz exatamente o contrário.

É importante recordar esses fatos, para se ter uma idéia de como gira a política brasileira ao longo dos anos. O exemplo do Paraná repetiu-se em outros Estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, o Estado transformou-se num pântano político. Basta citar os nomes dos três candidatos a governador a ser escolhido no próximo dia 3 de outubro: Sergio Cabral, Garotinho, Fernando Gabeira.

É preciso dizer mais alguma coisa?


Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação

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