sábado, 11 de outubro de 2008

POIS É


É... o mundo mudou. Os EUA cogitam estatizar seus principais bancos. A Islândia, referência mundial em qualidade de vida e democracia, já o fez. A Inglaterra também, na prática, ao comprar mais de US$ 800 bilhões em títulos de instituições financeiras, impondo uma série de exigências. Esta crise colocou em questão os dogmas mais caros do capitalismo neo-con e, portanto, pode-se afirmar que ela causou irreparáveis danos ideológicos ao capitalismo em si. Fez-me pensar, então, no valor de uma ideologia. Quanto vale uma ideologia? Um trilhão, dois trilhões, dez trilhões de dólares? Quanto será necessário para a civilização entender que a humanidade não pode ficar à mercê do cassino das bolsas? Que grandes corporações privadas não podem subsitituir o Estado e as organizações internacionais coordenadas entre Estados.

Há tempos que venho observando similitudes entre a realidade contemporânea e a época medieval. Os senhores feudais dominavam o mundo – hoje são grandes corporações. Eles tinham moeda própria – as empresas de hoje têm ações. Os senhores feudais articulavam-se contra a formação do Estado moderno, inclusive ideologicamente. O pensamento corporativo, neocon e direitista de hoje também mobiliza-se, com muito êxito, contra o Estado. Os novos ventos ideológicos que sopravam ao fim da idade média não significaram o fim do capitalismo, assim como as mudanças que se discutem atualmente também não o significarão – ao contrário, a revolução francesa representou a verdadeira fundação do capitalismo moderno, baseado em leis igualitárias que salvaguardavam não apenas a propriedade mas sobretudo o direito universal dos homens à liberdade e à dignidade. Está certo que nem tudo que está no papel corresponde à prática, mas seria desonesto negar o tremendo avanço que as constituições pós-revolucionárias trouxeram para o mundo moderno. Elas trouxeram, em primeiro lugar, a própria modernidade.

A história não se move com passinhos curtos. Analisando-a atentamente, observamos que a civilização humana, desde seus primórdios, evolui através de fatos grandiosos: guerras monstruosas; impérios erguidos quase que subitamente, e que depois desabam também de forma brusca; pestes devastadoras que dizimam milhões; e crises econômicas. Aliás, as crises econômicas, de longe, sempre foram os principais motores da história. Todas as ideologias foram concebidas e desenvolvidas a partir de reflexões, ponderadas ou desesperadas, sobre crises econômicas.

Creio que esta crise que vivemos é a que poderá ser enfrentada com mais sabedoria pela humanidade, pois as novas tecnologias permitem uma articulação entre países e entre diversos segmentos econômicos que nunca existiu antes. Mais: hoje existe uma interação informacional com as massas. A internet produziu uma grande rede, que é como um grande cérebro mundial, ainda não acostumado a pensar, ainda caótico, mas que pensa, articula, reage e influencia as decisões globais.

O Brasil, nesse contexto, é um país altamente privilegiado. A crise financeira tem levado desespero a países que, efetivamente, viviam de crédito, como os EUA. Em outras palavras, viviam de ostentação, de riquezas que não mais possuíam. Agora terão que mudar seus hábitos, simplificarem suas vidas. Andar mais de bicicleta, por exemplo. Comer menos. Talvez seja bom para a saúde. Já o Brasil... tem uma produção industrial e agrícola pujante e crescente, uma economia literalmente baseado no ferro, no aço, nos alimentos e, agora, no petróleo, ou seja, uma economia real que só tem a ganhar com o estouro das bolhas financeiras, que geram otimismo falso para economias decadentes.

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