São Paulo e Rio de
Janeiro estão a ocupar espaços midiáticos dos mais variados. No Estado mais
rico da Federação voltou à tona denúncia publicada em 2009 pela revista Carta
Capital apresentando maracutaias envolvendo, por baixo, 30 bilhões de reais. E
isso para não falar dos 10% das propinas proporcionadas por acordos debaixo do pano
nas obras do metrô e empresas multinacionais.
Na primeira
divulgação dos fatos não houve maiores repercussões, talvez pela proximidade
das eleições, ou porque a mídia de mercado naquele momento tivesse mais
facilidades de esconder fatos escabrosos, envolvendo gente graúda que reza por
suas respectivas cartilhas, do que nos dias atuais onde as redes sociais
demonstram cada vez mais poder multiplicador.
Em São Paulo, em
suma, as denúncias crescem a cada dia e chegam até a obrigar o atual Governador
Geraldo Alckmin, o ex-José Serra, e a assessoria do ex-Mario Covas a jurarem
por todos os santos que não sabiam do que aconteceu ou que nada tinham a ver
com o gangsterismo.
Já no Rio de
Janeiro, que nos últimos tempos transformou-se num pântano político, até os
jornalões e telejornalões foram obrigados a divulgar os acontecimentos
relacionados com a instalação da CPI dos ônibus pela Câmara dos Vereadores.
Ficou praticamente impossível silenciar e tomar partido logo de saída para o
lado dos empresários.
No início, a
bancada do PMDB e aliados, que compõem a maioria parlamentar do Prefeito
Eduardo Paes tentaram, mas não conseguiram, impedir que a proposta do vereador
Eliomar Coelho prosperasse. Como a pressão foi grande, a bancada do Prefeito
acabou aceitando a CPI dos ônibus, mas de uma forma totalmente escamoteada,
porque terá como presidente o vereador Chiquinho Brazão, acusado de vínculos
com as milícias, e o relator Professor Uóston, dois vereadores que nem
assinaram o requerimento apresentado por Eliomar, do PSOL. Brazão chegou a colocar em dúvida a
necessidade de uma CPI do gênero. Outros integrantes escolhidos, Jorginho do
SOS (PMDB) e Renato Moura, do PTC (Partido Trabalhista Cristão) são do mesmo
time que os mencionados.
O esforço para
tornar a CPI pró forma foi muito grande, porque os políticos apoiadores tiveram
de enfrentar pressões de manifestantes que não aceitam mais a continuidade do
pântano político em que se transformou o Rio de Janeiro, seja em âmbito
estadual ou municipal.
Se saísse mesmo uma
CPI com o objetivo de apurar verdadeiramente as denúncias, os contrariados
seriam todos aqueles políticos que devem favores aos empresários do setor de
transportes coletivos. Brazão e Uóston tiveram até de sair escondidos da Câmara
dos Vereadores e sob proteção da PM para evitar serem questionados por
manifestantes indignados com a manobra mafiosa. Fugiram como se fossem
meliantes.
Os indicados
controladores da CPI, depois de alijarem o apresentador da proposta, o vereador
Eliomar Coelho (PSOL), deram entrevistas em telejornalões garantindo que a CPI
investigará as denúncias. Mentira! Não vai, porque se forem a fundo poderão
atingir a eles mesmos, não escapando também o Prefeito Eduardo Paes.
E aí é que está o x
do problema. Ou será que alguém acredita que a patota empresarial dos ônibus
não financia candidatos? Se até nomeiam secretários de transportes para
garantir um dos lados, que dirá o resto?
Na verdade, a luta
para acabar de uma vez por todas com o pântano político carioca e fluminense
não vai parar. A nível estadual, como diz o dito popular, Sérgio Cabral está
com o Pezão na cova. Pretende deixar o governo em abril, para que o filho,
Marco Antônio, se candidate, já que a legislação eleitoral impede postulante de
parentes de chefes de executivo escolhidos pelo voto e exige a sua
desincompatibilização do cargo seis meses antes do pleito.
Mas quem sabe, a
persistirem as manifestações nas ruas, que pedem a antecipação da saída de
Cabral e o seu desgaste, pode até ser que o governador deixe o posto o mais
rápido possível. O seu impeachment pode ser difícil, mas não impossível, até
porque quando o navio afunda, os ratos tentam de todas formas se livrar do
afogamento.
Quem sabe, os
deputados estaduais que hoje obedecem ordens de Cabral, tais quais os ratos nos
navios afundando, procurem salvar a própria pele e detonem o governador de
pezão na cova?
Fazem bem os jovens
manifestantes, porque só através da pressão é que se consegue o atendimento das
reivindicações. Os vereadores vinculados aos poderosos chefões dos ônibus e ao
Prefeito não podem ficar em paz, como se o decidido a porta fechadas fosse o
definitivo. Cabral recuou em várias questões em que se mostrava intransigente e
agora aos poucos Paes está seguindo o mesmo caminho.
Mário Augusto JakobskindÉ correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE.Direto da Redação
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