Foto: Dayvison Nunes/JC Imagem
Por Fernando
Castilho, do JC Negócios.
O que leva um
prefeito, eleito no primeiro turno, de uma das cinco mais importantes capitais
do Brasil com orçamento de R$ 3,5 bilhões, por ano, e influência direta sobre
3,8 milhões de pessoas, na Região Metropolitana a se preocupar com o quanto vai
receber de salário no fim do mês, a ponto de se valer de uma
"gambiarra" legal para que pudesse manter o valor do que era
depositado na sua conta bancária quando era servidor do Tribunal de Contas do
Estado?
A visão do Barnabé!
Barnabé, para quem nunca ouviu a expressão, é um adjetivo criado na década de
60 em Pernambuco para definir o servidor público a partir do estereótipo de
preocupação com seus vencimentos. É aquele sujeito que, invariavelmente, se
preocupa com quinquênio, gratificação e quanto irá receber quando se aposentar.
Ele tem absoluta
certeza de que o Estado existe para servir a ele e, seja qual for o governador,
e seja qual for a política de pessoal, sempre se julga um injustiçado. A sua
principal preocupação é quanto vai receber no fim do mês. Calma, gente, isso é
um estereótipo! Servidor público é outra coisa.
Isso não quer dizer
que Geraldo Júlio seja um típico barnabé. Afinal, ele é servidor concursado do
Tribunal de Contas do Estado, fez vários cursos de especialização e como vimos
na declaração de Imposto de Renda apresentada ao TRE no ano passado, acumulou
patrimônio e tem poupança.
Mas, seu
comportamento em relação ao salário, e como se valeu de uma legislação
“meia-boca”, criada para atender a situação de outro colega de TCE, Milton
Coelho, que estava no cargo de vice-prefeito, revela o cacoete burocrático e
preocupação com o que pode colocar na Caderneta de Poupança no fim do mês. Ou,
como se diz no estudo da Biologia, é da sua natureza.
Façamos a pergunta
ao contrário: Alguém já viu Eduardo Campos se preocupar com salário do cargo
onde ele esteve? Alguém já ouviu Tasso Jereissati reclamar que o salário de
governador ou de senador era pequeno e que, como empresário poderia receber 300
vezes mais? Ou, para ir mais longe: alguém já pensou por que diabo Antônio
Ermírio de Moraes entendeu de fazer política e se candidatara a receber o
salário de governador São Paulo?
Nenhum dos três
tem, tinha ou teve essa preocupação. Pelo menos, não em palavras e atos. Porque
aprenderam que quem faz política pensando grande não pode pensar em quanto vai
ganhar. Até porque, quem faz política pensando em quanto vai ganhar quase
sempre se bandeia para situações, digamos... nada republicanas. Esse é outro
tipo de gente.
Claro, a
preocupação de Geraldo Júlio não é a mesma dos proto-políticos. Não está
pensando em se dar bem e ninguém duvida de sua honestidade e seriedade com a
coisa pública. Sua história de técnico atesta isso. E não é disso que se trata
aqui.
O que se pergunta
é: Por que cargas d'água, em algum dia de dezembro de 2012, ele sentou com
alguém para ver quanto seriam seus vencimentos de prefeito? E por que, como viu
que eles seriam menores que os de um auditor do TCE aceitou se beneficiar da
mesma lei que Milton Coelho ajudou a escrever para não ter prejuízo monetário?
Podia se beneficiar
como se beneficia até agora? Podia! Mas, não devia. Não depois de ganhar uma
eleição da forma que ganhou e da expectativa que a cidade tem para com ele. O
tamanho da cadeira e a importância do cargo a nível regional e até nacional não
lhe permitiam isso. Se ele se elegeu para ser prefeito de uma cidade como o
Recife, tinha e tem a obrigação de dar o exemplo: receber o que município paga
ao prefeito e pronto.
É menor? É! Mas,
desde quando Eduardo Campos o escalou para ser candidato ele sabia o que iria
receber de salário. Se esse é um assunto que lhe interessava tanto, poderia ter
dito: Chefe, não quero concorrer porque vou ter prejuízo financeiro. Vou perder
qualidade de vida e padrão de consumo e por isso vou ficar por aqui. Obrigado.
E iria cuidar de sua vidinha no TCE.
Ruim foi pensar
nisso depois de uma campanha como a que fez e aceitar um caminho esdrúxulo para
não ter prejuízo financeiro. Eleito, essa seria a última coisa com o que
deveria se preocupar. Até porque sabe que hoje está recebendo mais do que o
município oficialmente lhe paga.
Por que ele recebe
mais? Porque no fim do ano a Prefeitura do Recife vai devolver ao TCE o que o
órgão lhe pagou e esse valor é maior do que os proventos do prefeito. De forma
prática essa gambiarra criada para beneficiar Milton Coelho aumenta o salário,
sim.
Isso é bem
diferente de, na secretaria de Desenvolvimento Econômico, optar pelo salário do
TCE em lugar de secretário. Na verdade, esse também não é um caminho correto.
Na SDEC, por exemplo, receberia, na prática, mais que outro secretário
recrutado na iniciativa privada. Mas, pode-se dizer que o dinheiro é o mesmo, o
Estado de Pernambuco. Sai de um rubrica e entra noutra. Mas, a coisa complica
quando o dinheiro tem que ir de um poder para outro como no caso da prefeitura.
Para ser coerente e
mostrar que virou político categoria Premium, Geraldo Júlio tinha que dar o
exemplo. Receber o salário do prefeito, a verba de representação e se isso
ainda não cobrisse as suas despesas poderia pedir ao presidente do partido, que
é Eduardo Campos, para complementar com verba do fundo partidário. Até porque,
ele está ali com a missão de fazer uma gestão que deve ser referência do PSB
nacionalmente.
Mas, ele fez o
caminho inverso. Aceitou um complemento sabendo que em algum momento seu
secretário de finanças vai ter que assinar um cheque devolvendo ao TCE o que
este lhe pagou e que isso é menor que o vencimento do prefeito autorizado pela
Câmara Municipal. Foi isso que pegou mal.
Como dizia Doutor
Arraes: Política é opção. O sujeito tem que ter em mente que em algum momento o
caixa vai estar baixo mesmo e que, dependendo do caso, o partido paga sua
feira. Não pode ficar cuidando disso e muito menos aceitando biombo legal para
não perder salário e deixar de depositar um pouquinho no cofrinho e na
Caderneta de Poupança.
Não, se tiver a
perspectiva de dirigir uma capital depois de uma tempestade de votos. Não, se
quiser fazer parte do primeiro time. Com todo respeito, não dá para pensar como
Barnabé. Até porque cabe a pergunta: Geraldo Júlio não sabia que o pagamento
pelo seu trabalho era o que a Câmara fixou? Mas, e daí? Não queria ser
prefeito?
Nenhum comentário:
Postar um comentário