Por Davis Sena
Filho — Blog Palavra Livre
Em 2009, o
presidente trabalhista Luiz Inácio Lula da Silva recebeu uma lista tríplice
para escolher o procurador que iria assumir a Procuradoria Geral da República (PGR),
órgão superior do Ministério Público, que tem por função primordial defender os
interesses da sociedade com independência e autonomia, a partir da Constituição
de 1988. Lula é um político democrata, forjado nas discussões sindicais e
políticas, aberto ao diálogo e portador de uma personalidade que tem a
característica de ouvir mais do que falar, o que, sem sombra de dúvida,
contrapõe-se à condição humana, pois as pessoas preferem falar a ouvir, o que
muitas vezes não é recomendável por não ser sábio ou prudente.
Dos três
procuradores listados pela categoria de promotores, Lula escolheu o nome mais
votado — o de Roberto Gurgel, que deixou a Procuradoria Geral da República após
quatro anos de polêmicos mandatos e de incontáveis inimigos e adversários que o
procurador acumulou, pois sempre deu a impressão de ter atuado de maneira
seletiva, a escolher a quem ele considerava alvo de investigações e denúncias,
bem como tergiversou no que é relativo às investigações e denúncias contra
aqueles que se mostraram seus parceiros políticos, no decorrer de seu nebuloso
mandato à frente da PGR.
Lembro-me da
máxima: Aos amigos tudo; aos inimigos, a lei. Roberto Gurgel atuou exatamente
dessa forma, e compartilhou sua atuação política conservadora com os seus
aliados, porque Gurgel mais do que um procurador exerceu suas atividades como
político, a ter como base para as suas ações nada mais e nada menos que a
Procuradoria Geral da República, poderoso órgão que foi considerado pelo
ex-ministro do STF, Sepúlveda Pertence, “um monstro”.
Para quem não sabe,
o ex-ministro exerceu também o cargo de procurador-geral no Governo Sarney. Ao
se despedir disse a seguinte frase: “Eu não sou o Golbery, mas, também criei um
monstro”. O general Golbery do Couto e Silva foi o criador do Serviço Nacional
de Informações, o temido SNI, órgão de inteligência de um estado ditatorial,
que se tornou incontrolável até ter suas verbas muito diminuídas ainda nos
Governos Figueiredo e Sarney, o que o deixou politicamente enfraquecido.
Posteriormente, o SNI foi extinto no Governo Fernando Collor, pois o Brasil
efetivava um processo de redemocratização, e a existência de um órgão que
remontava à ditadura civil-militar não tinha mais sentido de existir.
O Ministério
Público, com a estabilidade da democracia brasileira, fortaleceu-se, mas
exagerou na receita. O MP tem atuado como um órgão de ingerência política sobre
os poderes Executivo e Legislativo em âmbito federal. Como se transformou, por
intermédio de sucessivos procuradores gerais, em ponta de lança da oposição
partidária e da imprensa de direita, o ex-procurador, Roberto Gurgel, tornou-se
uma figura de proa na política brasileira, porque sua atuação profissional
passou a ser seletiva.
Por isso e por
causa disso, tal procurador causou danos à estabilidade política do País,
cooperou para criar crises entre as instituições republicanas e fomentou a
discórdia e a desconfiança entre as autoridades, inclusive a criar obstáculos
para o trabalho de rotina do Congresso, bem como prejudicou o Governo, no que
concerne às matérias e aos projetos que lhes interessava, e, consequentemente,
dar continuidade ao seu programa de governo apresentado à população, que o
elegeu para aplicar o que propôs e prometeu na campanha eleitoral.
Homens e mulheres
eleitos pelo povo brasileiro passaram a desconfiar que eram vítimas de escutas
não autorizadas pela Justiça, porque a Procuradoria Geral do senhor Gurgel
adquiriu um aparelho chamado Guardião, que é um sistema de escuta e espionagem
complexo e avançado e que até hoje não se sabe ao certo quanto à sua
regulamentação, ainda mais quando se percebe que o PGR Gurgel, tal qual aos
juízes do STF, Gilmar Mendes, Luiz Fux, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio de
Mello, escolheu lado político e ideológico para se aliar, atuou nos casos de
forma equivocadamente seletiva, bem como agiu, sobretudo, muito mais como
político do que como procurador disposto a defender os interesses do povo
brasileiro.
Gurgel foi sectário
em seu mandato, aliou-se ao campo político de direita e inquestionavelmente
suas ações foram no mínimo questionáveis. Tudo o que um homem público em cargo
tão importante não deveria fazer ele fez. Sua atuação no “mensalão” foi um desastre,
ao ponto de afirmar no plenário do STF reconhecer que as provas contra José
Dirceu — um dos ícones e militante histórico da esquerda brasileira — eram
“tênues”. Nem na questão do caso Visanet, que é empresa privada e não pública,
demoveu-o de não acusar os políticos do PT, que, inclusive, apresentaram os
recibos, o que comprova a lisura no recebimento de empréstimos.
A imprensa burguesa
e de direita abraçou a causa. Os seus principais comentaristas e colunistas,
aboletados em diversos órgãos de comunicação privados, alinharam seus
pensamentos, a fim de inverter valores e desse modo fraudar a verdade, que só
tem um caminho e um só lado. Neste caso, torna-se claro que o dinheiro oriundo
da Visanet não é público, e, sim, privado. Essa realidade daria, sobretudo,
outra conotação ao já confesso caixa dois de campanha do PT, no que diz
respeito à questão da formação de quadrilha e ao desvio de dinheiro público, o
que, sem sombra de dúvida, não ocorreu, como comprovam os documentos emitidos
pela Visanet e recebidos pelo PT.
A atuação de
Roberto Gurgel neste caso é lamentável, bem como de juízes conservadores,
vaidosos e autoritários, a exemplo de Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes, que,
certamente, terão suas figuras questionadas pela história, além de muitos outros
casos que atingem tais juízes, no que tange a seus negócios privados e condutas
pessoais. Atos e ações que, inequivocadamente, não condizem com o cargo que
ocupam e muito menos com a Constituição e o regimento interno do STF, tribunal
que se tornou, indubitavelmente, um partido político conservador.
O Supremo aliado da
imprensa de mercado e disposto a ocupar o lugar dos tucanos e seus apêndices
quase irrelevantes, como o DEM e o PPS, por compreender que o PSDB está
fragilizado, envolvido com inúmeros escândalos, que nunca são denunciados pela
PGR e julgados pelo STF, bem como não tem programa de governo e projeto de
País. A direita é estúpida em sua essência filosófica, mas não é idiota e sabe
quando está em desvantagem. Por isso, é preciso mentir para confundir;
dissimular para manipular. E nada mais útil do que ter como aliada a imprensa
brasileira — a porta-voz da Casa Grande e, por sua vez, a mais atrasada do
mundo.
O PSDB, partido de
direita, incompetente e fracassado, como demonstram, indelevelmente, seus
sucessivos governos em São Paulo, e derrotado três vezes pelo PT em âmbito
federal. Os tucanos ocuparam por oito anos a Presidência da República, e,
inconsequentes, resolveram vender o patrimônio público do Brasil, que eles não
construíram. Traíram o povo brasileiro e não satisfeitos com a total
irresponsabilidade faliram três vezes o poderoso país de língua portuguesa,
porque foram três vezes ao FMI pedir esmolas, de joelhos e com o pires nas
mãos.
Os incompetentes
emplumados, de bico longo e voo curto precisavam fechar a conta no fim de ano,
e, por conseguinte, atender às ordens e metas do FMI, que a partir do Governo
Lula sumiu da vida brasileira, porque o mandatário petista e trabalhista pagou
a dívida e livrou o Brasil da vergonha de se submeter às “visitas” de técnicos
subalternos daquela instituição de rapina e pirataria, que viajavam
frequentemente para a terra brasileira, com o propósito de fiscalizar as nossas
contas, além de aviar receitas econômicas tão draconianas que até o próprio Drácula
as recusaria, por causa de suas essências nocivas ou venenosas a qualquer povo
que deseja viver melhor e morar em país autônomo, justo, livre e independente.
Tais procedimentos
eram uma verdadeira desfaçatez e vergonha nacional, evidentemente para as pessoas
que tem vergonha na cara, porque muitos colonizados e com irremediável complexo
de vira-lata acham normal e natural ser subserviente, covarde, pau-mandado para
se tornar amigo do Mickey e dar uma de pateta. Esta é a direita inconsequente
que deseja voltar ao poder e novamente governar para os ricos como sempre fez e
a se submeter aos ditames e às vontades de país colonizador e de caráter
imperialista. Enfim, os tucanos saíram do poder federal e o Brasil cresceu
economicamente e socialmente como nunca antes.
Contudo, nada ou
quase nada que foi melhorado e conquistado pelo povo brasileiro nos últimos 11
anos é mostrado, falado e escrito pelos órgãos de imprensa privados e de
concessão pública. São críticas propositalmente açodadas, a ter como base o condicional,
mesmo quando realizados e concretizados atos e ações que beneficiam o povo. São
denúncias sistemáticas (muitas delas comprovadamente vazias), contundentes e
que têm por objetivo sangrar continuamente o governo trabalhista e popular,
alvo do ódio ideológico da elite empresarial que sempre quiseram um Brasil para
poucos, pois de caráter VIP.
Roberto Gurgel
trabalhou como capataz da Casa Grande e compôs politicamente com os partidos de
oposição ao Governo. Questões como as operações Satiagraha, Castelo de Areia e
Monte Carlo, da Polícia Federal, pararam na Procuradoria Geral, e causaram
estranheza à sociedade organizada, à base do Governo no Congresso e ao PT,
partido que teve alguns de seus membros julgados politicamente e condenados sem
provas, como ocorreu, por exemplo, com José Dirceu e José Genoíno.
O procurador
Gurgel, juntamente com o juiz Gilmar Mendes, livrou o poderoso banqueiro Daniel
Dantas de ir para a cadeia. Ele perdeu o prazo para recorrer no STJ da decisão
que anulou as provas da Polícia Federal na Operação Satiagraha. Muitos
ministros do Tribunal consideraram absurdas as anulações e tais decisões
poderiam ser facilmente anuladas no plenário. Gurgel, a fim de dar alguma
satisfação, optou por uma bem esfarrapada e disse que a Procuradoria não foi
notificada, além de o processo do Dantas ter chegado às mãos de um
subprocurador, que teria se aposentado. Durma-se com um barulho desse.
Gurgel realmente é
homem de um peso e duas medidas. Aos aliados, tudo. Aos inimigos, no caso do
procurador, nem na forma da lei. Durante quase três anos, Gurgel sentou nos
processos da Operação Monte Carlo. O seu aliado íntimo, o senador cassado
Demóstenes Torres, o “varão da República”, além de ser considerado para a
imprensa burguesa o paladino da ordem, da moral e dos bons costumes, contou com
sua imprescindível ajuda e por certo tempo se livrou das acusações de
participar da quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira. O bicheiro é aquele
“empresário” da Folha de S. Paulo que tentou derrubar o governador do DF, que
ameaçou, realizou escutas clandestinas e chantageou inúmeras autoridades
federais, bem como se tornou um dos principais pauteiros e editores da Veja,
pasquim de péssima qualidade editorial também conhecido como a Última Flor do
Fáscio. Deu no que deu: Demóstenes foi cassado e hoje não passa de um cadáver
político a vagar pelo cerrado de Goiás.
Ainda não
satisfeito com sua atuação à frente da PGR, Gurgel não se fez de rogado e
também nunca se empenhou como deveria no STF em favor da Operação Castelo de
Areia da Polícia Federal. A operação partiu de delação premiada e por isto
anônima de um doleiro. A PF obteve informações por meio da quebra de sigilo
telefônico e que envolve três da Camargo Corrêa. Essas pessoas, conforme os
relatórios, informes e investigações da PF, organizaram um esquema de repasses
ilegais para políticos, além de serem acusados de crimes financeiros, como
evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Os ministros do STJ
desconsideraram todo o trabalho da polícia. Gurgel, em um primeiro momento, não
concordou com a ação dos juízes, mas logo arrefeceu. Posteriormente, nunca se
empenhou no STF para que a Castelo da Areia seguisse seu rumo para que tudo
fosse apurado adequadamente. Pelo contrário, o procurador que praticamente não
defendeu os interesses da sociedade brasileira, pois esta é sua função,
resolveu fazer política ao lado dos atores partidários do campo da direita. Ele
se transformou, juntamente com os juízes Gilmar Mendes, Marco Aurélio de Mello,
Cezar Peluso, Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Ellen Gracie, Luiz Fux e o decano
Celso de Mello, em um dos procuradores mais ativos politicamente que se tem
notícia, além de ser ideologicamente conservador.
Gurgel é
considerado pessoalmente um homem ponderado e até tímido, mas suas ações
públicas não foram nada ponderadas e tímidas e o promotor passou a fazer
política, de forma aberta e até mesmo sem pudor. O funcionário público, chefe
do MPF, cometeu outros atos polêmicos e foi acusado pelo senador Fernando
Collor (PTB/AL) de ser um prevaricador, no que tange ao caso bicheiro Carlinhos
Cachoeira, Demóstenes Torres, Veja e Época. Também foi acusado de comprar, no
final de 2012, 1.226 tablets, por intermédio de licitação dirigida, o que teria
favorecido a Apple. Por seu turno, o servidor público e político de direita foi
acusado pelo senador de Alagoas de ter adquirido o equipamento Guardião para
espionar os seus adversários e favorecer os seus aliados, bem como ninguém sabe
oficialmente se a PGR é fiscalizada e autorizada a usar o sistema de escutas.
Qual é o procedimento legal?
Todavia, Gurgel
continuou a pisar firme em sua trilha política e livrou mais um aliado de ter
de enfrentar a realidade dura da vida. O PGR arquivou denúncia de que o senador
Randolfe Rodrigues (PSOL) recebeu durante seis meses mesada de R$ 20 mil quando
foi deputado estadual no Amapá. A conduta de Roberto Gurgel foi considerada um
absurdo, porque a acusação a Randolfe tem como provas irrefutáveis os recibos
assinados por ele do próprio punho. O dinheiro ilegal complementava o salário
dele.
O novo paladino da
ética, tal qual a Demóstenes Torres e adversário do Governo trabalhista, foi
protegido pela imprensa conservadora, que, de acordo com os olhos distorcidos e
deturpados da Folha de S. Paulo, Randolfe Rodrigues sofreu perseguição do senador
Renan Calheiros (PMDB/AL), presidente do Senado, que institucionalmente apenas
encaminhou o caso à PGR. Ponto. Contudo, Randolfe se livrou de uma enrascada e
creio que tal pessoal vai ficar eternamente grato a Roberto Gurgel, que
recentemente deixou a Procuradoria e para o bem do Brasil republicano já foi
tarde. Aliás, muito tarde.
Entretanto, não
paremos por aí. Antes do Natal de 2012, o condestável procurador-geral da
República tentou dar um golpe. Ele simplesmente pediu a prisão dos envolvidos
com o mensalão durante a ausência dos juízes do STF. Apenas o juiz Joaquim
Barbosa estava de plantão de fim de ano. Barbosa não caiu na jogada de Gurgel e
indeferiu o pedido. Mesmo a se tratar de um magistrado considerado
emocionalmente instável, politicamente conservador, juridicamente seletivo,
vaidoso e autoritário, Joaquim Barbosa não pagou para ver, e não quis assumir
sozinho um ato que poderia lhe causar muitas contestações, que gerariam
incontáveis questionamentos constitucionais e institucionais, o que não seria,
inclusive, de bom alvitre para a estabilidade dos poderes da República. Agora,
vamos à pergunta que teima em não se calar: adivinha quem apostou no golpe, ou
seja, na prisão imediata de políticos, a exemplo de José Dirceu? Acertou quem
pensou ou afirmou que foi a imprensa corporativa. Bingo!
O seletivo e
midiático Gurgel continuou a sua tenebrosa trajetória à frente da PGR. Antes de
limpar as suas gavetas e finalmente ir embora, o procurador propôs a cassação
da governadora da Maranhão Roseana Sarney (PMDB/MA), do deputado Anthony
Garotinho (PR/RJ), do deputado Gabriel Chalita (PMDB/SP) e do senador Gim
Argello (PTB/DF), todos da base do Governo trabalhista. Sua atitude gerou
reações, como a de Garotinho, candidato favorito ao Governo do Rio em 2014, que
disse o seguinte: "Ele resgatou uma história já arquivada de dez anos
atrás, provavelmente para agradar alguém. Gurgel é quem deve explicações".
Garotinho é inimigo político da Globo.
Sobre Roseana, os
técnicos da Comissão de Orçamento do Congresso disseram o seguinte: “nos anos
eleitorais há um prazo legal, em junho, para a assinatura de convênios. Esta
prática é generalizada e, portanto, Gurgel poderia pedir a cassação de uma
dezena de chefes de Executivo. A transferência de recursos a municípios pode
ser feita até no segundo semestre desde que convênio tenha sido assinado no
prazo; e que a cassação deveria ser pedida na época e não a 16 meses do fim do
mandato, prazo no qual não será concluído o julgamento”.
Como se observa,
Roberto Gurgel, além de ser parte de uma aliança midiática, política e
partidária conservadora, tornou-se, lamentavelmente, um especialista em
factoides. Ele sabe que esses pedidos de cassações não vão à frente porque as
provas não são contundentes, pois vazias de conteúdo. Se Roseana Sarney fosse
cassada, todos os governadores também o seriam. Acontece que os motivos e
explicações apresentados pelos técnicos da Comissão de Orçamento do Congresso
não deixam dúvidas quanto à má intenção do político de direita, Roberto Gurgel.
A PGR se tornou um partido político de defesa da Casa Grande. E Gurgel foi o
seu capataz-mor. Ele já foi tarde. É isso aí.
Um comentário:
CA PRA NOS, PESSOALMENTE esse novo procurador nunca me fez nada, mais eu ao olhar para sua fisionomia tive uma birra com ele. entao vamos esperar para ver. Mas esse troço de escolher o cara mais votado ou a tal do triplice nao vejo muito porque se muitas vezes temos gente la dentro que é de confiança. Ja eu como voce disse nao sei ficar de BOCA CALADA.
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