Alguém gostaria de
convocar o fantasma de Cristiano Machado
por Mauricio Dias
A política mineira
é marcada por vários traumas. Um deles deu origem à expressão “cristianização”,
derivada do nome de Cristiano Machado (1893-1953), que se lançou, em 1950,
candidato à Presidência pelo PSD. Foi “cristianizado” porque o partido apoiou
Getúlio Vargas, do PTB. Nos dias de hoje “cristianizar” é “fritar”.
Em duas eleições
presidenciais (2006 e 2010), o mineiro Aécio Neves, neto de Tancredo, foi
“fritado” por candidaturas paulistas (José Serra e Geraldo Alckmin), estado que
controla o PSDB.
Mais jovem naquelas
ocasiões, optou por esperar sua oportunidade. Finalmente parecia ter conseguido
fixar o nome dele dentro do partido. Engano. Sofre todo o tempo sabotagem de
José Serra e dos “serristas”.
Aécio previa isso.
Assim, continuou cauteloso, mesmo tendo sido elevado à condição de presidente
do partido. Ele sente que não pisa em terra firme. Por isso, nunca se declarou
abertamente “o candidato a presidente” pelo PSDB.
“Se tiver mais de
um candidato, as prévias se justificam. O PSDB tem um único candidato e está
unido em torno dele. Não há possibilidade de esse clima de divisão contaminar a
candidatura de Aécio”, insiste Sérgio Guerra, presidente do Instituto Teotônio
Vilela, notório adversário de Serra.
Ah, se fosse assim!
Serrista de carteirinha, o senador Álvaro Dias (PR) lamenta não terem havido os
debates e as prévias. Aí, sim, “o nome de Aécio teria se fortalecido”.
Esse pessoal não é
fácil. Não é de se excluir que Serra possa ganhar uma prévia no partido. Sem dúvida ainda é o preferido de muitos
eleitores e filiados, eternamente certos do seu “melhor preparo”.
Serra nunca se
fingiu de morto. Ele circulava pelas sombras e conversava pelas noites atento a
tudo o que acontecia no mundo político. Continuou a acalentar o sonho “da vida
inteira”, como já disse, de chegar ao cume do poder mesmo após duas derrotas.
Em 2002, perdeu para Lula e, em 2010, para Dilma.
A oportunidade para
Serra ressurgir “dos mortos”, veio com os números das intenções de voto na mais
recente pesquisa Datafolha. Como parecia aos institutos que ele estivesse fora
da corrida, Serra pediu pessoalmente a inclusão do seu nome às intenções de
voto dos eleitores.
Com a queda de 17%
para 13% das intenções de voto, a candidatura de Aécio sofreu. Serra alcançou
14%. A rigor, embora com alto índice de rejeição, o nome dele sempre oscilou em
torno desse patamar. Essa é uma das provas da preferência do eleitor tucano.
O acerto o levou a
uma avaliação forte, tão sutil quanto presunçosa, sobre a diferença entre ele e
Aécio na moldura de candidaturas possíveis: “Pode ter uma linha de que
precisamos ter gente que saiba fazer acontecer. Claro que eu me identifico não
como ator, mas como observador e analista”.
Resta saber como os
eleitores de Minas Gerais reagiriam à derrota interna de Aécio e como os de São
Paulo se comportariam com o veto à aspiração de Serra.
Mauricio Dias-CartaCapital
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