Nós, brasileiros,
queixamo-nos do tratamento que nos dispensam no exterior. Lembro-me, por
exemplo, da polêmica envolvendo dentistas brasileiros que exerciam sua
profissão em Portugal e não tiveram seus diplomas validados. Indignamo-nos em
solidariedade aos nossos compatriotas. Agora, com a chegada dos médicos cubanos
ao nosso país, mostramos nossa face xenófoba. As cenas protagonizadas por
médicos na entrada da Escola de Saúde Pública do Ceará, na última
segunda-feira, envergonha-nos diante do mundo e escancara a barbárie de
profissionais cuja principal virtude deveria ser a capacidade de compreender o
ser humano e auxiliá-lo em suas dores.
A hostilidade
direcionada aos médicos cubanos em Fortaleza, entretanto, é apenas a ponta do
iceberg, e merece reflexão. Primeiramente porque não só de Cuba provêm os
médicos contratados em caráter temporário pelo governo federal. Itália,
Portugal, Espanha, Argentina, Rússia, Bolívia e Uruguai são alguns dos demais
países de origem. Então a pergunta é: por que justamente os cubanos são
hostilizados? Parece-me que a resposta não está nas questões de saúde, mas no
preconceito que uma elite nutre em relação ao regime político e econômico
estabelecido naquela pequena ilha caribenha.
Outra pergunta que
gostaria de fazer é: por que duvidarmos da qualidade da formação médica cubana?
Importante dizer que 60 nações possuem acordos de intercâmbio médico com Cuba,
país que derrubou sua taxa de mortalidade para 4,5 por mil (a menor da América
Latina), tão diferentemente do Brasil, cuja taxa é de 13,6. Além disso, nada
indica que nossa formação seja melhor que a deles, pelo contrário. O exemplo
dado pelos médicos brasileiros em relação aos seus colegas cubanos dá a real
dimensão da falência de nossa universidade. Porque uma universidade incapaz de
ensinar ética aos profissionais que forma, não pode ser séria.
Muitos médicos
cubanos que ingressam no Brasil têm ampla experiência no atendimento à atenção
básica e em países cuja precariedade na saúde equipara-se à brasileira. Ao
invés de hostilizá-los, nossos médicos deveriam exercitar a humildade e
aprender com eles a exercer uma medicina menos elitizada e mais próxima das
necessidades da nossa população, tão carente de atendimento.
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