Primeiro, vieram as
revelações sobre a espionagem de brasileiros pelo governo dos Estados Unidos.
O Itamaraty chiou,
mas pegou leve.
Afinal, a Dilma
visitará o Obama em outubro, e os diplomatas não querem estragar o convescote.
Mais do que isso,
acalentam o sonho de um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Os
fins, ambiciosos, justificariam os meios, curvar-se diante da arbitrariedade.
Depois, submeteram
o presidente da Bolívia, Evo Morales, à humilhação de ter o avião interceptado
na Europa, a fim de procurarem Edward Snowden a bordo. Para quem desembarcou
hoje de uma longa viagem a Marte, trata-se do técnico que trabalhou para a
Agência de Segurança Nacional dos EUA e denunciou a arapongagem high-tech da
NSA (a sigla inglesa da agência) e da CIA mundo afora.
O Brasil é a maior
potência sul-americana. Reclamou, mas nos modos polidos _ou pusilânimes_ da
“carrière”.
Quem muito se
abaixa mostra o que não deve, e deu no deu.
No domingo, o
cidadão brasileiro David Miranda foi detido por quase 12 horas em um aeroporto
londrino, com base na lei local de antiterrorismo. Antes de submetê-lo a
constrangimento, as autoridades do Reino Unido avisaram os chapas de
Washington.
Miranda não era
suspeito de vínculo com o terror. Foi aprisionado para intimidarem seu
companheiro, o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, radicado aqui no
Rio. Foi Greenwald quem informou o planeta sobre a escandalosa documentação
sigilosa recolhida por Edward Snowden.
O Itamaraty pede
explicações, reclama, mas não encara os governos do Reino Unido e dos Estados
Unidos. O palavreado de protesto serve mais para consumo interno, voltado à
opinião pública brasileira.
Desde a revelação
sobre a espionagem ilegal, o governo Dilma Rousseff, por meio do chanceler
Antônio Patriota, recusou-se a tomar uma atitude à altura do lugar que o Brasil
aspira entre as nações.
A reação altiva
seria oferecer asilo a Edward Snowden, que prestou um serviço ao Brasil ao
avisar sobre a intromissão nas comunicações por telefone, e-mail etc.
Patriota, contudo,
apressou-se a esclarecer: o Brasil não estava aberto a Snowden, que na falta de
opção acabou abrigado pelo governo ultra-autoritário da Rússia.
Patriota e Dilma
enrolam. Se querem mesmo resistir à humilhação ao Brasil e a um cidadão
nacional, ainda é tempo de anunciar que Edward Snowden seria bem-vindo aqui.
Dá para imaginar
a tormenta se, no lugar do Brasil, estivessem os Estados Unidos ou o Reino
Unido?
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