Envolvidos de corpo e
alma na luta pelas causas progressistas, às vezes nos esquecemos de que tão
importante quanto obter vitórias na ampliação dos direitos da sociedade é
batalhar pela manutenção dessas conquistas. Pois a direita está à espreita
para, ao nosso menor vacilo, tentar emplacar sua agenda retrógrada.
É o que está
acontecendo agora com a discussão sobre o projeto de lei 4330, o chamado PL da
Terceirização. De autoria do deputado federal e empresário Sandro Mabel
(PMDB-GO), o projeto, em tramitação no Congresso desde 2004, prevê a
terceirização ampla e irrestrita, inclusive nas atividades essenciais das
empresas, e não apenas nas atividades-meio. Na prática, vai permitir a
quarteirização, ou seja, a contratação de outras empresas pela própria
terceirizada, o que resultará na perda de direitos dos trabalhadores, na
precarização das relações de trabalho e no enfraquecimento dos sindicatos.
O PT e as principais
centrais sindicais estão se mobilizando contra o projeto, que pode jogar por
terra as maiores conquistas dos trabalhadores brasileiros. É uma ameaça direta
aos direitos de representação e contratação coletiva, pois promove uma
fragmentação que enfraquece as representações sindicais dos trabalhadores e,
como consequência, a capacidade de luta do movimento sindical nas negociações
de salário e de condições de trabalho.
O projeto só atende
aos interesses dos empresários, por isso precisa ser combatido por todos os
setores progressistas da sociedade e rejeitado em sua tramitação no Congresso.
O Dieese e os
sindicatos estimam em 12 milhões o número de trabalhadores terceirizados no
país. Já é uma enormidade. As centrais sindicais defendem que seja mantida a
restrição à terceirização nas chamadas atividades-fim, que o projeto de Mabel,
de forma irresponsável, permitiria.
Para os empresários,
a justificativa para uma flexibilização ainda maior da legislação trabalhista é
aumentar a competitividade do setor produtivo brasileiro —ou seja, reduzir o
custo das empresas. Mas o que querem mesmo é reduzir o custo do trabalho por
meio da redução dos salários e dos direitos trabalhistas tão arduamente
conquistados. A fria argumentação dos números pode provar a vantagem das
relações de trabalho mais perversas —sempre haverá, por exemplo, alguém que
prove, na ponta do lápis, a maior "competitividade" das fazendas que,
até hoje, se utilizam do trabalho análogo à escravidão. Mas tem cabimento
defender que esse "modelo" seja contemplado nas leis trabalhistas do
país?
Não podemos esmorecer
na luta pela manutenção dos nossos direitos. Outra batalha das centrais
sindicais é para que as empresas que contratam serviços de terceirizadas sejam
consideradas responsáveis solidárias em casos de descumprimento da legislação
trabalhista. Os empresários, em mais um esforço reacionário, querem a chamada
responsabilidade subsidiária: se a terceirizada não cumpriu as obrigações
estabelecidas por lei, sinto muito, não temos nada a ver com isso.
O resultado dessa reforma
trabalhista às avessas —em malefício de quem trabalha— só pode ser o
desrespeito às normas de saúde e segurança (com o consequente aumento do número
de acidentes e doenças no local de trabalho), a piora dos níveis salariais, a ampliação
das jornadas e o crescimento da rotatividade. Tudo o que Brasil não precisa.
Por isso, temos que continuar lutando, não apenas pelo que ainda podemos não apenas
pelo que ainda podemos conquistar, mas pela manutenção daquilo que já
conquistamos.José Dirceu
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