Será que
aproveitaremos esse momento de crise, quando se rasgaram as máscaras e se
desnudaram os hipócritas e os falsos moralistas, para fazermos finalmente uma
reforma política por intermédio da qual se resgate a dignidade na política?
Vivemos, nos dias
que correm, uma espécie de “operação mãos limpas” na política brasileira? José
Serra, Geraldo Alckmin e Andrea Matarazzo, quadros fundamentais do PSDB de SP,
passarão pela mesma expiação dos seus pecados e pelo mesmo linchamento público
porque passaram José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno, quadros fundamentais
do PT? Passarão? Ou os pecados de uns são mais venais que os de outros? Uns são
mais corruptos que outros? Uns são mais “quadrilheiros” que outros? Está posta
em xeque a Justiça no Brasil. Está posto em xeque o jornalismo no Brasil.
Tommaso Buscetta,
você deve se lembrar desse episódio de nossa história contemporânea, foi o
primeiro grande capo da máfia a romper o código de silêncio que vigia entre os
gângsteres: a omertà. Buscetta nos remete, inevitavelmente, ao dedicado,
arriscado e solitário trabalho dos juízes Paolo Borsellino e Giovanni Falcone,
que entraram para a história como os magistrados que passaram a Itália a limpo,
quando investigaram, e condenaram à prisão, centenas de parlamentares, empresários, servidores públicos e
jornalistas.
Na Itália, assim
como no Brasil de hoje, desgraçadamente, as editorias de política dos jornais e
revistas se misturavam, e se confundiam, com as páginas de polícia.
Roberto Jefferson
era, desde o governo FHC, uma espécie de “capo” da política brasileira. Ocioso
desnudarmos aqui as suas “vergonhas”, seus instintos mais “primevos”, seus
“pecados” e inteligência a serviço do que há de pior na política. De repente,
como que num “milagre”, Jefferson tornou-se um “santo”, um “herói” de ópera-bufa, para a grande imprensa
brasileira, quando denunciou algo que
viria a se tornar um suposto esquema de compra de parlamentares, o chamado
“mensalão”. Na verdade, o que Jefferson denunciara era um esquema de
financiamento da política, via Caixa 2,
que é utilizado desde sempre pelos
políticos e governantes brasileiros. Desde sempre. O resto, sabe-se hoje, é história.
Agora, vem à tona
um esquema milionário, também de caixa 2, e – ainda a se investigar e comprovar
– de corrupção e enriquecimento ilícito de grãos-tucanos de São Paulo. Mas o
esquema atinge também Arruda do DEM e outros tantos políticos. Pois, como já
disse aqui, inúmeras e reiteradas vezes, esse modo de se financiar a política
não é monopólio do PSDB, do PT, do DEM, do PMDB, do PP ou do PTB; é de todos os
partidos.
Será que
aproveitaremos esse momento de crise, quando se rasgaram as máscaras e se
desnudaram os hipócritas e os falsos moralistas, para fazermos finalmente uma
reforma política por intermédio da qual se resgate a dignidade na política? Ou
será que perderemos mais essa valiosa oportunidade e continuaremos nesse
joguete de intrigas mascarando a realidade de acordo com interesses de ocasião?
Já disse em artigos
anteriores e repito neste: o mesmo pau que dá em Zé tem que dar em José também.
Os mesmos juízes –
nas Cortes, mas também nos lares brasileiros e nas Redações – que condenaram
José Dirceu como “corrupto” e “chefe de quadrilha” [sic], os “magnânimos” e
“justos” detentores e defensores da capciosa tese do “domínio do fato”, esses
juízes devem agora também condenar José Serra. Ou não?
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