Lóbi irresistível
Devo um pedido de
desculpas à grande imprensa nacional. Me desculpe, grande imprensa nacional.
Quando li a matéria da "IstoÉ" sobre o cartel consentido formado em
São Paulo para a construção de linhas de trem e metrô sob sucessivos governos
do PSDB e as suspeitas de um propinoduto favorecendo o partido, comentei com
meus botões (que não responderam porque não falam com qualquer um): essa
história vai para o mesmo pântano silencioso que já engoliu, sem deixar
vestígios, a história do mensalão de Minas, precursor do mensalão do PT. E não
é que eu estava enganado? A matéria vem repercutindo em toda a grande imprensa.
Com variáveis graus de intensidade, é verdade, em relação ao tamanho do
escândalo, mas repercutindo. Viva, pois, a nossa grande imprensa. Já se
começava a desconfiar que o Brasil, onde inventam tanta novidade, tinha
adotado, definitivamente, dois sistemas métricos diferentes.
A propósito, ou
mais ou menos a propósito, li na revista "The Nation" que só a
Associação de Banqueiros Americanos tem noventa e um lobistas em Washington
defendendo os interesses dos bancos e lutando para revogar a regulamentação do
setor aprovada no Congresso, recentemente. Isto sem falar em outras associações
de banqueiros e nos próprios gigantes financeiros, como o Goldman Sachs
(cinquenta e um lobistas) e o JP Morgan (sessenta lobistas). O cálculo é que
existam seis lobistas do sistema financeiro para cada congressista americano.
Os bancos querem derrotar a regulamentação e evitar as reformas para continuar
as práticas, vizinhas do estelionato, que provocaram a grande crise de 2008 e
continuam a lhes dar lucros obscenos enquanto o resto da economia derrapa. O
lóbi é uma atividade legítima, ou ao menos uma deformação legitimada pelo uso.
A questão é saber quando a presença de mil e tantos lobistas em torno de um
Congresso deixa de ser uma pressão e se transforma num cerco. E como se pode
falar em democracia representativa quando o poder do voto é substituído pelo
poder de persuasão de seis lobistas, três em cada ouvido, prometendo
presentinhos para a patroa?
O que tudo isso tem
a ver com o cartel em São Paulo? Nada, a não ser que, talvez, sirva de consolo
para quem sucumbiu ao encanto de muito dinheiro, levado pelo lóbi mais
irresistível que existe, o da cobiça. Mesmo sendo daquele tipo de pessoa sobre
o qual não se pode dizer que também é corrupto sem ouvir um "Quem
diria..." No Brasil 247
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